Eram de origem galega os Lemos
Que ao deixarem sua terra natal
Trocaram sua pátria, deixaram seus bens
Para virem radicar-se em Portugal
Porém, foi Gil ou Giral Martins de Lemos
Que em terra lusa fez seu historial
Ajudando sempre o Mestre de Avis
Que mais tarde foi Rei de Portugal
A sua mulher Berengueira Anes
Foi a mãe de um grande mareante
Gomes Martins de Lemos, grande fidalgo
Que teve por África papel importante
Acompanhou D. João primeiro a Ceuta
E lutou sempre com ele em tal andança
Foi ainda o aio de D. Afonso
Que foi senhor da casa de Bragança
Pela sua coragem e valentia
Foi pelo Rei D. João recompensado
Nomeou-o membro do Conselho Régio
E fez dele o fidalgo mais respeitado
Gomes Martins de Lemos, grande senhor
Com Mécia Vasques de Góis casou
Era neta de Estêvão Vasques de Góis
Que de Lisboa era alcaide e a governou
Desse casamento outros Lemos nasceram
Que conseguem acumular prestígio e bens
Sendo entre outros Fernão Gomes de Lemos
E Afonso, o prior de Guimarães
Fernão Gomes de Lemos, homem valente
Foi um fidalgo muito poderoso
E genro de Vasco Martins da Cunha
Que foi nobre e senhor de Lanhoso
Um outro filho foi também notável
Gomes Martins de Lemos, homem do mar
Esteve com seu irmão lutando em Ceuta
Onde ambos se conseguem destacar
Este segundo Gomes Martins de Lemos
Foi também um membro da Casa Real
Ainda no tempo de Afonso V
O Africano e Rei de Portugal
Pelo seu destaque nas campanhas de África
Onde lutou com coragem e vontade
D. Afonso fê-lo senhor da Trofa
Com jurisdição de juro e herdade
Ainda na batalha da Alfarrobeira
Em lutas violentas e renhidas
Ajudou a triunfar o Infante Henrique
Sobre D. Pedro, o das sete partidas
Reforçou Afonso quinto suas benesses
E Gomes de Lemos foi recompensado
Com o senhorio das terras doadas
E da Igreja da Trofa, o padroado
Era seu titular o infante Afonso
Quando de senhorio teve mudança
O Padroado da Igreja da Trofa
Que pertenceu à Casa de Bragança
Gomes de Lemos nas conquistas de África
Veio a ter do Rei mais compensações
Sendo-lhe doadas as terras de Álvaro
E Pampilhosa e suas jurisdições
Sua mulher Maria de Azevedo
Herdeira do fidalgo Álvaro Meira
Faz transitar o senhorio de Jales
Para o senhor da Trofa e companheira
Morreu já cansado este fidalgo
Depois de uma vida inteira a lutar
Foi em mil quatrocentos e noventa
Como reza a memória tumular
Do seu casamento nasceram seis filhos
Sendo um deles homem de muito valor
O fidalgo João Gomes de Lemos
Que da Trofa foi o segundo senhor
Confirma D. Manuel terras da Trofa
Ao Herdeiro da Família valorosa
Fazendo-o ainda senhor de Jales
Das terras de Álvaro e Pampilhosa
Ele casou com Violante de Sequeira
Colaça da Infanta D. Joana
Que foi filha de D. Afonso quinto
E por Aveiro deixara tanta fama
Vieram a nascer deles oito filhos
Todos eles lutadores e homens do mar
Exercendo altos cargos administrativos
Por essas longas terras do ultramar
E todos eles muito se distinguiram
Na gesta da Índia como mareantes
Sacrificando até sua própria vida
Por esses mares tenebrosos e distantes
Fernão Gomes de Lemos foi navegante
Pôs a sua vida em risco muitas vezes
Servindo Albuquerque e Lopo Soares
E ainda o grande Henrique de Menezes
Participou na tomada de Malaca
E esteve no ataque a Benastarim
Dominou o Mar vermelho até Adem
Com grandes lutas e pelejas sem fim
António de Lemos foi homem do Mar
Lutou com bravura, alma e coração
Escolhido a defender Lopo de Brito
Conseguiu repor a ordem no Ceilão
Incumbido de enfrentar o mar Vermelho,
Foi um capitão de grande génio e brio
Demonstrando coragem e valentia
Numa armada que dirigiu Diu
Também no oriente Martins de Lemos
Sempre ao lado de Simão de Menezes
Perdeu a vida por ser morto pelos mouros
Quando defendia outros portugueses
Grande fidalgo Francisco de Lemos
Regista no oriente notáveis façanhas
Casou com D. Catarina de Ataíde
Que era filha de João de Mascarenhas
Catarina de Ataíde, linda mulher
Envolveu o sábio luso em paixões
Morreu nova, sem filhos e era apontada
Como uma das Natércias de Camões
Simão de Lemos foi também mareante
Honrando tantos Lemos Gente sábia
Foi capitão de um barco e foi valente
Na armada que dominou o mar da Arábia
Foi seu filho terceiro senhor da Trofa
Duarte de Lemos o aventureiro
Que foi o mais importante dos Lemos
E o mais conhecido no mundo inteiro
Duarte de Lemos foi o maior fidalgo
Destes Lemos que honraram a nação
Trabalhou para ela cinquenta anos
E foi autor da Capela do Panteão
O jovem fidalgo só com vinte anos
Como capitão do barco Santa Cruz
Veio a fazer parte de uma grande armada
Que seu tio Jorge de Aguiar conduz
Quando tomaram rumo ao oriente
Uma grande tempestade lhes surgiu
E com o desaparecimento de seu tio
Foi Duarte que a frota dirigiu
Acompanhado por Vasco da Silveira
E de João Gaia, piloto afoito,
Conseguiram chegar a Moçambique
Precisamente a dezanove do oito
Com a sua chegada a esta terra
Depois de enfrentar tormentas e lutar
Estava aberto o caminho da glória
À morte do tio, Jorge de Aguiar
Lemos partiu depois para Melinde
Com o fim de assentar uma feitoria
Para deter o muito contrabando
Que por Angola e Moçambique seguia
Deixou a feitoria que criara
E veio a Moçambique invernar
À espera de tempo de feição
Para sua viagem retomar
Seguiu sua viagem por Melinde
E fez uma visita à Quilôa
Aproveitando para recolher impostos
Pertencentes à nossa lusa coroa
Dominou os mares da Etiópia, Arábia e Pérsia
Fazendo por ali importante escala
Conseguindo obter as jurisdições
Que se estendiam de Cambaia a Sofala
Em vinte e um de Março Duarte de Lemos
Estava envolvido numa festa boa
Era a posse do herói Francisco Pereira
Da importante capitania de Quilôa
Em seguida visitou Sorocotá
A Pérsia e várias ilhas de Ormuz
Ainda Monfia e ilha de Zanzibar
Conduzindo sempre o barco Santa Cruz
Apresentou-se a D. Francisco d’Almeida
Nessa altura presente em Cananor
Sendo compensado pelo Vice-Rei
Pelo seu trabalho, pelo seu labor
Tomou a feitoria de Melinde
Quando a pequena esquadra ali chegou
Preparando-se para seguir nova viagem
E pelas costas da Índia navegou
Afonso de Albuquerque tinha um projecto
Mas que Duarte de Lemos recusou
Era a tentativa de conquistar Goa
Empresa em que o fidalgo não entrou
Dominou os mares com grande actividade
Era um fidalgo novo mas arrogante
E até ao próprio Afonso de Albuquerque
Lhe criou problemas a todo o instante
Por tal motivo o governador
Que também foi muito duro e cruel
Lhe ordenou que regressasse ao reino
Por despacho de El Rei D. Manuel
Pouco tempo se manteve na Trofa
E voltando ao serviço da Coroa
No ano de mil quinhentos e doze
Chegava Lemos novamente a Goa
Voltava à Índia o bravo fidalgo
Para exercer ali alta função
Foi nomeado Tenadar de Panjim
E ainda para cargo de escrivão
Seu casamento com mulher nativa
Filha de um mercador influente
Foi apadrinhado pelo governador
E realizado em Goa, no oriente
Como prenda, Afonso de Albuquerque
Embora com dinheiros oficiais
Entregou ao escrivão Duarte de Lemos
A importância de seiscentos mil reais
Foi um homem de valor no oriente
E por Albuquerque muito considerado
E até pelo Rei D. João Terceiro
Era um fidalgo muito respeitado
Nomeou-o um dia o Rei D. João
Por capitão duma armada tão pomposa
Para transportar num forte galeão
O eleito Papa Cardeal de Tortosa
O grande galeão partia de Espanha
Com mais sete barcos a seu lado
Transportando a nobre comitiva
Desse cardeal eleito e venerado
Entrou sem festa em Roma o Cardeal
Quis ser humilde, era assim a sua fé
Renunciando a esta pomposa festa
Adriano, o novo Papa foi a pé
Por tal motivo o Rei D. João Terceiro
Vendo por terra esse seu empenho
Decidiu entregar ao novo Papa
A bela relíquia do sagrado Lenho
Regressa à pátria em quinhentos e treze
Devendo passar o seu tempo mais belo
Para vir efectuar o seu casamento
Com sua amada Joana de Melo
Seria o seu casamento verdadeiro
Que o primeiro não teve qualquer valor
Havia apenas jogo de interesses
Procurando dinheiro e não amor
Sua esposa era uma linda mulher
Filha de Álvaro Nogueira de Brito
E de sua mulher Isabel Pacheco
Que era filha de um mercador rico
Este mercador era João Vaz Colim
Amo a D. João segundo dedicado
Tinha nele toda a confiança o Rei
Era um homem de valor e respeitado
Foi no ano de mil quinhentos e treze
Que fez a terceira viagem em comissão
Na encosta de Moçambique, em Sofala
Exercendo ainda o cargo de escrivão
Nas encostas de Meca e Arábia
Onde uma esquadra capitaneou
Já vencia duzentos mil reais
E com isto riqueza angariou
No ano de mil quinhentos e quinze
Com o cargo de escrivão em Sofala
Ganhava aí dezasseis mil reais
Mas que passados dois anos deixava
Em mil quinhentos e dezassete
Entregou a Sebastião Rodriguez
O cargo de escrivão que ocupava
E voltou ao reino mais uma vez
Regressou ainda nesse mesmo ano
Deixando os mares e terras do Industão
Voltando mais uma vez à sua pátria
Ao acabar a terceira comissão
Com a morte de seu pai, Duarte Lemos
Veio a ter do mesmo herança valorosa
Confirmada pelo Rei D. João Terceiro
Terras de Jales, Trofa e Pampilhosa
Sua vivência constante com o Rei
Seu génio de valentia e coragem
Faziam dele um fidalgo importante
De grande valor e pura linhagem
A partir de quinhentos e dezoito
E até à morte de sua mulher
Foi o maior período que pela Trofa
O fidalgo se conseguiu manter
Este Lemos, terceiro senhor da Trofa
Depois do paço que herdou restaurar
Lembrou-se de construir uma capela
Onde a sua família fosse orar
Por volta de quinhentos e vinte e três
Já o templo estava concluído
Apontado o maior empreendimento
Pelo Duarte de Lemos conseguido
Com a morte de Joana de Melo
Esposa por ele tanto estimada
Vem a capela a sofrer alterações
Compatíveis com a fama alcançada
A capela foi toda remodelada
Com muita arte e muita perfeição
Constituindo uma obra primorosa
Do então renascimento coimbrão
Tem seis metros e setenta de comprido
E cinco e meio apenas de largura
É denominado o Panteão dos Lemos
Essa linda obra d’ arte que ainda dura
Diogo de Castilho, arquitecto régio
Que na Igreja de Santa Cruz trabalhou
Devia ter sido o empreiteiro
Que a importante obra edificou
O fidalgo em contacto com a corte
Que os Jerónimos em obras presenciou
Conheceu Diogo e João de Castilho
Que o seu trabalho muito influenciou
A escultura da estátua oratória
Cuja fama já chegou a toda a parte,
É atribuída a um grande mestre
O escultor quinhentista Hodarte
Deve-se a um grande génio quinhentista
Toda a obra artística do Panteão
Que trabalhou na Igreja de Santa Cruz
E que se chamava João de Ruão
Este belo artista do renascimento
Que deixou bom trabalho em luso solo
Devia ter esculpido S. Salvador
E a Virgem com o Menino ao colo
Pelo seu trabalho muito destacado
Sempre ao serviço do Rei de Portugal
São-lhe cedidas as terras de seu pai
Mas confirmadas pelo poder real
D. Manuel fê-lo senhor do rio Vouga
Atribui-lhe poderes por concessão
Cede-lhe direito de cobrar portagem
A todos os barcos com carregação
Na extensão de algumas sete milhas
Que se estendem do Vouga até ao mar
Sem a licença desse grande fidalgo
Não se podia armar redes nem pescar
Com a morte de Joana de Melo
A febre de conquista não parou
O aventureiro Duarte de Lemos
Com destino à Guiné rumou
Duarte de Lemos foi um estratega
O tráfego da Guiné controlava
Também o comércio daquela ilha
Onde bastante lucro assim acumulava
O muito dinheiro ali arrecadado
E que ao aventureiro vinha à mão
Ia servindo para custear
O empreendimento do Panteão
Desenvolveu ali um bom trabalho
Com as reformas e melhoramentos
Exercendo enorme actividade
Nos primeiros anos de quinhentos
Ao ver São Tomé em tal crescimento
Sendo à Igreja também devotado
Veio a conseguir ali naquela ilha
Formar o seu primeiro bispado
Era lá que dava apoio às armadas
Controlava todo o comércio costeiro
Começava com a indústria do açúcar
Continuando a ganhar dinheiro
Pelos anos da década de quarenta
A Guiné movimentava muita gente
Com a presença de escravos recrutados
E degredados idos do continente
Entretanto já navegantes de Aveiro
Punham seu génio aventureiro à prova
Rumando à captura do bacalhau
Nos frios mares do norte na Terra Nova
Aveiro tinha uma frota valente
Com os melhores barcos ao nível de então
Eram estimados em cento e meio
E andavam sempre em grande agitação
Este negócio chorudo concerteza
Não escaparia ao grande aventureiro
Já demais que tinha boas relações
Com o navegante duque de Aveiro
Por ordem de El Rei D. João Terceiro
Para exercer no Brasil alta função
Fez partir Martins Afonso de Sousa
Com caravelas, naus e um galeão
Levava quinhentos homens a bordo
Com o fim de aquela terra explorar
rocurando desenvolver a agricultura
E a indústria do açúcar movimentar
Quando Martins Afonso volta ao reino
Era um homem feliz e cumpridor
onseguindo executar integralmente
O que lhe incumbiu o Rei seu senhor
Estava na ideia de D. João Terceiro
Converter a costa em capitanias
tribuídas a doze donatários
Com todos os poderes e regalias
Lemos navegou a costa brasileira
Durante alguns anos sempre a lutar
Ajudou Francisco Pereira Coutinho
Contra índios que se andavam a revoltar
Da capitania de Todos os Santos
Sendo Francisco Pereira donatário
Vem Lemos com sua gente socorrer Vasco
Gesto de um homem forte e solidário.
Por ajudar Vasco Fernandes Coutinho
Assegurar o seu rico património
O donatário do Espírito Santo
Cede a Lemos a Vila de Santo António
Depois de Lemos enfrentar os Aimorés
Com a sua força e autoridade
As férteis terras do Espírito Santo
Voltam novamente à normalidade
A cidade começava a florescer
As plantações entravam em movimento
Especialmente a cana-de-açúcar
O principal objectivo do momento
Quatro engenhos para o fabrico do açúcar
Entravam numa fase de construção
Realizando-se assim os grandes planos
Que para Lemos eram uma ambição
Veio Lemos ao reino novamente
Pedir ao Rei a sua confirmação
Daquela ilha de Santo António
Recebida há anos por doação
Veio a ceder o Rei D. João Terceiro
Em mil quinhentos e quarenta e nove
Na paga do seu brioso trabalho
Em todas as reformas que promove
Destinada ao Brasil, D. João Terceiro
Envia de Lisboa mais uma armada
Fazendo parte dela o barco Ajuda
Por Duarte de Lemos comandada
Nessa embarcação seguiu para o Brasil
Onde tanto de notabilizou
Era o jesuíta Padre Manuel da Nóbrega
Que a cidade de S. Paulo fundou
Desembarcaram no Brasil em Pereira
Povoação que nasceu à beira-mar
Onde construíram logo uma capela
Para a família ali poder rezar
Na nau Ajuda que era comandada
Por Duarte de Lemos seu capitão
Seguia a imagem de Nossa Senhora da Ajuda
Transportada com carinho e devoção
Tomé de Sousa foi capitão da armada
E das terras do Brasil, Governador
Partindo para o reino em trinta e dois
Esse grande aventureiro de valor
Entregou o cargo de capitão mor
Numa doação feita a Pêro de Góis
Donatário da ilha de São Tomé
No ano de quinhentos e trinta e dois
Em quinhentos e quarenta e seis
Estava Lemos em Porto Seguro
Na capitania de Campo Tourinho
Sempre com o vigor de um homem duro
Parte Lemos para a pátria novamente
Para descansar um pouco e repousar
Registando a sua presença na Trofa
Onde não se conseguia acomodar
Pouco tempo este fidalgo esteve ali
Preocupado com projectos em curso
Resolveu regressar imediatamente
Para fazer seus negócios no percurso
Lemos e Pêro regressam ao Brasil
Constroem engenhos de açúcar, celeiros
Reforçam reformas administrativas
E também constroem bons estaleiros
Deviam ter passado por São Tomé
Para juntar cana-de-açúcar e escravos
E ainda alguns técnicos daquele fabrico
Para trabalhar com engenhos já montados
Campo Tourinho entretanto é preso
Por abusos de poder decerto, cremos
Passando então sua capitania
Para o fidalgo Duarte de Lemos
Em mil quinhentos e quarenta e cinco
O primeiro açúcar do Brasil saía
A bordo do grande navio Braz Teles
Que o continente assim abastecia
O açúcar tão precioso para o reino
Fabricado no Brasil era o primeiro
Foi mencionado por Ambrósio Meira
Numa carta ao Rei D. João Terceiro
Tomé de Sousa Governador do Brasil
Ao reconhecer um homem forte e duro
Logo confiou a Duarte de Lemos
A capitania de Porto Seguro
Entretanto o herói e grande fidalgo
A quem a Corte para sempre ficou grata
Sonhava penetrar no interior
E ali explorar o Rio da Prata
Pr’ó Brasil seguem mais quatro Jesuítas
Dos quais, dois o fidalgo conhecia
Era Padre Manuel Paiva que era de Águeda
E Afonso Braz de Arcos de Anadia
O missionário de Arcos de Anadia
Arquitecto genial e de perfil
Na construção de igrejas e colégios
Trabalhou sessenta anos no Brasil
Deixou trabalho no Espírito Santo
Em São Paulo e no Rio de Janeiro
Foi padre, arquitecto, missionário
Pregador, instrutor e carpinteiro
Duarte de Lemos e Manuel Paiva
Com o fim de desenvolver a educação
Constroem o colégio de São Tiago
No melhor local daquela região
Morreu em Vitória este missionário
Terra onde teve notável acção
Foi o maioral do Espírito Santo
Onde esteve ligado à educação
Lemos regressa mais uma vez à pátria
Talvez com vida fosse a última vez
Os muitas anos de trabalho e luta
Iam desgastando a sua robustez
Já cansado o fidalgo volta ao Brasil
Para assistir a grande celebração
Era o casamento do seu afilhado
Filho do chefe gentílico de então
"Gato Grande" era o nome daquele chefe
Com quem boas relações sempre tivemos
Chegando Lemos a baptizar-lhe um filho
Dando-lhe o nome de Sebastião de Lemos
A vida do herói estava no seu fim
Fase negativa desse fidalgo afoito
Tendo sido arrebatado pela morte
em mil quinhentos e cinquenta e oito
Não se sabe ao certo onde Lemos morreu
Se na sua terra mãe ou em Vitória
Sabe-se que jaz ali no Panteão
Obra que imortaliza sua memória
Desapareceu assim um grande herói
Fidalgo da Trofa que tanto lutou
E como crente na imortalidade
Para sempre nela o fidalgo ficou
Sucedeu-lhe João Gomes de Lemos
Mas com uma controversa sucessão
Sem a confirmação do poder real
Do então Rei de Portugal, D. João
Foi nomeado escudeiro do Rei
Pelo que boa soldada recebia
Dois mil cento e sessenta reais por mês
E um alqueire de cevada por dia
Casou com D. Leonor Pinheiro
Que era irmã do Bispo de Viseu
Mas depois de obter dela dois herdeiros
Esta senhora muito cedo morreu
Sua segunda mulher, Isabel Távora
Era viúva de Jorge Maldonado
O fidalgo que já tinha falecido
Senhor da quinta de Niza e Morgado
Duarte de Lemos foi o seu herdeiro
E da Trofa veio a ser quinto senhor
Confirmado pelo Rei D. Sebastião
Pelo respeito a avô, ao seu valor
Ele protegeu a câmara de Aveiro
Da entrada da barra foi seu defensor
Ajudou sempre António Prior do Crato
Sendo a Filipe segundo opositor
Era tão grande o seu ódio ao Rei Filipe
Que para evitar homenagem prestada
Para se não cruzar por ele na ponte
Atirando-se ao Mondego com a montada
Um outro episódio se verificou
Quando um dia andava a lavrar
E os esbirros espanhóis lhe perguntaram
Onde o fidalgo podiam encontrar
Duarte de Lemos ordenou ao moço
Para lhe tirar as vacas do arado
E levantando o timão com as mão
Lhe apontou o caminho indicado
Quando viram aquele gesto, os emissários
Viraram as costas comentando algo
Se aquele senhor tinha assim tanta força
O que lhes viria a fazer o fidalgo
Ele casou com D. Maria de Távora
E doze herdeiros vieram a nascer
Sendo o mais velho João Gomes de Lemos
Mas que bem cedo veio a falecer
Morreu em mil seiscentos e dezasseis
Precisamente a onze de Fevereiro
Este homem fiel a D. Sebastião
E de Portugal amigo verdadeiro
Sucedeu-lhe Diogo Gomes de Lemos
Que veio a ser da Trofa sexto senhor
Casou com D. Mariana Coutinho
Sem conseguir filhos do seu amor
Mais tarde com D. Guiomar de Almeida
Em segundas núpcias veio a casar
De quem vieram a nascer três filhos
E mais dois vieram a legitimar
João Gomes de Lemos foi sucessor
E como era um padre Jesuíta
Veio o Papa a dispensá-lo do seu voto
E sétimo senhor da Trofa fica
A confirmação foi em cinquenta e dois
Pelo Rei D. João Quarto, o restaurador
Possuidor de Jales e Pampilhosa
E da igreja também o seu senhor
Casou com D. Madalena de Melo
Terminando aqui a sua geração
Por deste casal não haver herdeiros
Para dar aos Lemos continuação
Por motivo da morte de seu irmão
Jerónima de Lemos que era solteira
Ficou na posse da casa de seu pai
Por ser ela apenas a sua herdeira
Ao casar com Jerónimo de Carvalho
Dos Carvalhos o seu herdeiro varão
É-lhe cedido o senhorio da Trofa
Confirmado por Real Confirmação
O segundo filho deste casamento
Que fez parte de uma família briosa
É-lhe confirmado pelo Rei D. Pedro,
O senhorio da Trofa e Lamarosa
Foi em mil seiscentos e noventa e nove
Pelo Rei D. Pedro a confirmação
Por terem morrido dele três irmãos
Lutando nas guerras da restauração
Foi a Bernardo de Carvalho e Lemos
A cedência real por duas vidas
Do senhorio da Trofa, por mercê
Dessas vidas dos seus irmãos perdidas
Enorme era esta família dos Lemos
Que tanto lutou e dominou os mares
Como Sequeiras, Brites, Nogueiras
Da casa de Góis, Melos e Aguiares
Ainda nos aparecem os Pachecos
Sendo com Joana de Lemos um casado
Dela morre um irmão solteiro na Índia
Outro de Duarte de Lemos foi cunhado
No princípio do século dezassete
Uma grande peste o Vouga assolou
Em Covelas dizimou a população
Com excepção de algum que a deixou
Com o abandono da igreja matriz
Do malogrado povo que ali rezou
Esta veio a cair em degradação
Quando aquela gente a abandonou
Foi então que o pobre povo da Trofa
Que mais não tinha ali que uma capela
Pediu ao donatário daquela ermida
Que deixasse praticar o culto nela
Mesmo sem poder este povo cristão
Com a ideia de uma igreja construir
Ao grande fidalgo senhor da Trofa
Terreno para a mesma foi pedir
Pediram terreno ao donatário
Luís de Carvalho que era barão
No ano de mil setecentos e cinco
Para começar ali a construção
Cede-lhe então o grande donatário
E a igreja foi sonho realizado
Ficando o titular da casa de Lemos
Sempre com o direito a padroado
Esta cedência veio a confirmar-se
Por D. Pedro que era o Rei de então
Ao filho de Bernardo Carvalho Lemos
Luís de Carvalho, seu herdeiro varão
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Este direito à casa da Trofa
Que o Rei D. João Terceiro tinha dado
Em mil oitocentos e setenta e cinco
Tinha ainda direito a padroado
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