quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Os Lemos da Trofa

Eram de origem galega os Lemos

Que ao deixarem sua terra natal

Trocaram sua pátria, deixaram seus bens

Para virem radicar-se em Portugal



Porém, foi Gil ou Giral Martins de Lemos

Que em terra lusa fez seu historial

Ajudando sempre o Mestre de Avis

Que mais tarde foi Rei de Portugal



A sua mulher Berengueira Anes

Foi a mãe de um grande mareante

Gomes Martins de Lemos, grande fidalgo

Que teve por África papel importante



Acompanhou D. João primeiro a Ceuta

E lutou sempre com ele em tal andança

Foi ainda o aio de D. Afonso

Que foi senhor da casa de Bragança



Pela sua coragem e valentia

Foi pelo Rei D. João recompensado

Nomeou-o membro do Conselho Régio

E fez dele o fidalgo mais respeitado



Gomes Martins de Lemos, grande senhor

Com Mécia Vasques de Góis casou

Era neta de Estêvão Vasques de Góis

Que de Lisboa era alcaide e a governou



Desse casamento outros Lemos nasceram

Que conseguem acumular prestígio e bens

Sendo entre outros Fernão Gomes de Lemos

E Afonso, o prior de Guimarães



Fernão Gomes de Lemos, homem valente

Foi um fidalgo muito poderoso

E genro de Vasco Martins da Cunha

Que foi nobre e senhor de Lanhoso



Um outro filho foi também notável

Gomes Martins de Lemos, homem do mar

Esteve com seu irmão lutando em Ceuta

Onde ambos se conseguem destacar



Este segundo Gomes Martins de Lemos

Foi também um membro da Casa Real

Ainda no tempo de Afonso V

O Africano e Rei de Portugal



Pelo seu destaque nas campanhas de África

Onde lutou com coragem e vontade

D. Afonso fê-lo senhor da Trofa

Com jurisdição de juro e herdade



Ainda na batalha da Alfarrobeira

Em lutas violentas e renhidas

Ajudou a triunfar o Infante Henrique

Sobre D. Pedro, o das sete partidas



Reforçou Afonso quinto suas benesses

E Gomes de Lemos foi recompensado

Com o senhorio das terras doadas

E da Igreja da Trofa, o padroado



Era seu titular o infante Afonso

Quando de senhorio teve mudança

O Padroado da Igreja da Trofa

Que pertenceu à Casa de Bragança



Gomes de Lemos nas conquistas de África

Veio a ter do Rei mais compensações

Sendo-lhe doadas as terras de Álvaro

E Pampilhosa e suas jurisdições



Sua mulher Maria de Azevedo

Herdeira do fidalgo Álvaro Meira

Faz transitar o senhorio de Jales

Para o senhor da Trofa e companheira



Morreu já cansado este fidalgo

Depois de uma vida inteira a lutar

Foi em mil quatrocentos e noventa

Como reza a memória tumular



Do seu casamento nasceram seis filhos

Sendo um deles homem de muito valor

O fidalgo João Gomes de Lemos

Que da Trofa foi o segundo senhor



Confirma D. Manuel terras da Trofa

Ao Herdeiro da Família valorosa

Fazendo-o ainda senhor de Jales

Das terras de Álvaro e Pampilhosa



Ele casou com Violante de Sequeira

Colaça da Infanta D. Joana

Que foi filha de D. Afonso quinto

E por Aveiro deixara tanta fama



Vieram a nascer deles oito filhos

Todos eles lutadores e homens do mar

Exercendo altos cargos administrativos

Por essas longas terras do ultramar



E todos eles muito se distinguiram

Na gesta da Índia como mareantes

Sacrificando até sua própria vida

Por esses mares tenebrosos e distantes



Fernão Gomes de Lemos foi navegante

Pôs a sua vida em risco muitas vezes

Servindo Albuquerque e Lopo Soares

E ainda o grande Henrique de Menezes



Participou na tomada de Malaca

E esteve no ataque a Benastarim

Dominou o Mar vermelho até Adem

Com grandes lutas e pelejas sem fim



António de Lemos foi homem do Mar

Lutou com bravura, alma e coração

Escolhido a defender Lopo de Brito

Conseguiu repor a ordem no Ceilão



Incumbido de enfrentar o mar Vermelho,

Foi um capitão de grande génio e brio

Demonstrando coragem e valentia

Numa armada que dirigiu Diu



Também no oriente Martins de Lemos

Sempre ao lado de Simão de Menezes

Perdeu a vida por ser morto pelos mouros

Quando defendia outros portugueses



Grande fidalgo Francisco de Lemos

Regista no oriente notáveis façanhas

Casou com D. Catarina de Ataíde

Que era filha de João de Mascarenhas



Catarina de Ataíde, linda mulher

Envolveu o sábio luso em paixões

Morreu nova, sem filhos e era apontada

Como uma das Natércias de Camões



Simão de Lemos foi também mareante

Honrando tantos Lemos Gente sábia

Foi capitão de um barco e foi valente

Na armada que dominou o mar da Arábia



Foi seu filho terceiro senhor da Trofa

Duarte de Lemos o aventureiro

Que foi o mais importante dos Lemos

E o mais conhecido no mundo inteiro



Duarte de Lemos foi o maior fidalgo

Destes Lemos que honraram a nação

Trabalhou para ela cinquenta anos

E foi autor da Capela do Panteão



O jovem fidalgo só com vinte anos

Como capitão do barco Santa Cruz

Veio a fazer parte de uma grande armada

Que seu tio Jorge de Aguiar conduz



Quando tomaram rumo ao oriente

Uma grande tempestade lhes surgiu

E com o desaparecimento de seu tio

Foi Duarte que a frota dirigiu



Acompanhado por Vasco da Silveira

E de João Gaia, piloto afoito,

Conseguiram chegar a Moçambique

Precisamente a dezanove do oito



Com a sua chegada a esta terra

Depois de enfrentar tormentas e lutar

Estava aberto o caminho da glória

À morte do tio, Jorge de Aguiar



Lemos partiu depois para Melinde

Com o fim de assentar uma feitoria

Para deter o muito contrabando

Que por Angola e Moçambique seguia



Deixou a feitoria que criara

E veio a Moçambique invernar

À espera de tempo de feição

Para sua viagem retomar



Seguiu sua viagem por Melinde

E fez uma visita à Quilôa

Aproveitando para recolher impostos

Pertencentes à nossa lusa coroa



Dominou os mares da Etiópia, Arábia e Pérsia

Fazendo por ali importante escala

Conseguindo obter as jurisdições

Que se estendiam de Cambaia a Sofala



Em vinte e um de Março Duarte de Lemos

Estava envolvido numa festa boa

Era a posse do herói Francisco Pereira

Da importante capitania de Quilôa



Em seguida visitou Sorocotá

A Pérsia e várias ilhas de Ormuz

Ainda Monfia e ilha de Zanzibar

Conduzindo sempre o barco Santa Cruz



Apresentou-se a D. Francisco d’Almeida

Nessa altura presente em Cananor

Sendo compensado pelo Vice-Rei

Pelo seu trabalho, pelo seu labor



Tomou a feitoria de Melinde

Quando a pequena esquadra ali chegou

Preparando-se para seguir nova viagem

E pelas costas da Índia navegou



Afonso de Albuquerque tinha um projecto

Mas que Duarte de Lemos recusou

Era a tentativa de conquistar Goa

Empresa em que o fidalgo não entrou



Dominou os mares com grande actividade

Era um fidalgo novo mas arrogante

E até ao próprio Afonso de Albuquerque

Lhe criou problemas a todo o instante



Por tal motivo o governador

Que também foi muito duro e cruel

Lhe ordenou que regressasse ao reino

Por despacho de El Rei D. Manuel



Pouco tempo se manteve na Trofa

E voltando ao serviço da Coroa

No ano de mil quinhentos e doze

Chegava Lemos novamente a Goa



Voltava à Índia o bravo fidalgo

Para exercer ali alta função

Foi nomeado Tenadar de Panjim

E ainda para cargo de escrivão



Seu casamento com mulher nativa

Filha de um mercador influente

Foi apadrinhado pelo governador

E realizado em Goa, no oriente



Como prenda, Afonso de Albuquerque

Embora com dinheiros oficiais

Entregou ao escrivão Duarte de Lemos

A importância de seiscentos mil reais



Foi um homem de valor no oriente

E por Albuquerque muito considerado

E até pelo Rei D. João Terceiro

Era um fidalgo muito respeitado



Nomeou-o um dia o Rei D. João

Por capitão duma armada tão pomposa

Para transportar num forte galeão

O eleito Papa Cardeal de Tortosa



O grande galeão partia de Espanha

Com mais sete barcos a seu lado

Transportando a nobre comitiva

Desse cardeal eleito e venerado



Entrou sem festa em Roma o Cardeal

Quis ser humilde, era assim a sua fé

Renunciando a esta pomposa festa

Adriano, o novo Papa foi a pé



Por tal motivo o Rei D. João Terceiro

Vendo por terra esse seu empenho

Decidiu entregar ao novo Papa

A bela relíquia do sagrado Lenho



Regressa à pátria em quinhentos e treze

Devendo passar o seu tempo mais belo

Para vir efectuar o seu casamento

Com sua amada Joana de Melo



Seria o seu casamento verdadeiro

Que o primeiro não teve qualquer valor

Havia apenas jogo de interesses

Procurando dinheiro e não amor



Sua esposa era uma linda mulher

Filha de Álvaro Nogueira de Brito

E de sua mulher Isabel Pacheco

Que era filha de um mercador rico



Este mercador era João Vaz Colim

Amo a D. João segundo dedicado

Tinha nele toda a confiança o Rei

Era um homem de valor e respeitado



Foi no ano de mil quinhentos e treze

Que fez a terceira viagem em comissão

Na encosta de Moçambique, em Sofala

Exercendo ainda o cargo de escrivão



Nas encostas de Meca e Arábia

Onde uma esquadra capitaneou

Já vencia duzentos mil reais

E com isto riqueza angariou



No ano de mil quinhentos e quinze

Com o cargo de escrivão em Sofala

Ganhava aí dezasseis mil reais

Mas que passados dois anos deixava



Em mil quinhentos e dezassete

Entregou a Sebastião Rodriguez

O cargo de escrivão que ocupava

E voltou ao reino mais uma vez



Regressou ainda nesse mesmo ano

Deixando os mares e terras do Industão

Voltando mais uma vez à sua pátria

Ao acabar a terceira comissão



Com a morte de seu pai, Duarte Lemos

Veio a ter do mesmo herança valorosa

Confirmada pelo Rei D. João Terceiro

Terras de Jales, Trofa e Pampilhosa



Sua vivência constante com o Rei

Seu génio de valentia e coragem

Faziam dele um fidalgo importante

De grande valor e pura linhagem



A partir de quinhentos e dezoito

E até à morte de sua mulher

Foi o maior período que pela Trofa

O fidalgo se conseguiu manter



Este Lemos, terceiro senhor da Trofa

Depois do paço que herdou restaurar

Lembrou-se de construir uma capela

Onde a sua família fosse orar



Por volta de quinhentos e vinte e três

Já o templo estava concluído

Apontado o maior empreendimento

Pelo Duarte de Lemos conseguido



Com a morte de Joana de Melo

Esposa por ele tanto estimada

Vem a capela a sofrer alterações

Compatíveis com a fama alcançada



A capela foi toda remodelada

Com muita arte e muita perfeição

Constituindo uma obra primorosa

Do então renascimento coimbrão



Tem seis metros e setenta de comprido

E cinco e meio apenas de largura

É denominado o Panteão dos Lemos

Essa linda obra d’ arte que ainda dura



Diogo de Castilho, arquitecto régio

Que na Igreja de Santa Cruz trabalhou

Devia ter sido o empreiteiro

Que a importante obra edificou



O fidalgo em contacto com a corte

Que os Jerónimos em obras presenciou

Conheceu Diogo e João de Castilho

Que o seu trabalho muito influenciou



A escultura da estátua oratória

Cuja fama já chegou a toda a parte,

É atribuída a um grande mestre

O escultor quinhentista Hodarte



Deve-se a um grande génio quinhentista

Toda a obra artística do Panteão

Que trabalhou na Igreja de Santa Cruz

E que se chamava João de Ruão



Este belo artista do renascimento

Que deixou bom trabalho em luso solo

Devia ter esculpido S. Salvador

E a Virgem com o Menino ao colo



Pelo seu trabalho muito destacado

Sempre ao serviço do Rei de Portugal

São-lhe cedidas as terras de seu pai

Mas confirmadas pelo poder real



D. Manuel fê-lo senhor do rio Vouga

Atribui-lhe poderes por concessão

Cede-lhe direito de cobrar portagem

A todos os barcos com carregação



Na extensão de algumas sete milhas

Que se estendem do Vouga até ao mar

Sem a licença desse grande fidalgo

Não se podia armar redes nem pescar



Com a morte de Joana de Melo

A febre de conquista não parou

O aventureiro Duarte de Lemos

Com destino à Guiné rumou



Duarte de Lemos foi um estratega

O tráfego da Guiné controlava

Também o comércio daquela ilha

Onde bastante lucro assim acumulava



O muito dinheiro ali arrecadado

E que ao aventureiro vinha à mão

Ia servindo para custear

O empreendimento do Panteão



Desenvolveu ali um bom trabalho

Com as reformas e melhoramentos

Exercendo enorme actividade

Nos primeiros anos de quinhentos



Ao ver São Tomé em tal crescimento

Sendo à Igreja também devotado

Veio a conseguir ali naquela ilha

Formar o seu primeiro bispado



Era lá que dava apoio às armadas

Controlava todo o comércio costeiro

Começava com a indústria do açúcar

Continuando a ganhar dinheiro



Pelos anos da década de quarenta

A Guiné movimentava muita gente

Com a presença de escravos recrutados

E degredados idos do continente



Entretanto já navegantes de Aveiro

Punham seu génio aventureiro à prova

Rumando à captura do bacalhau

Nos frios mares do norte na Terra Nova



Aveiro tinha uma frota valente

Com os melhores barcos ao nível de então

Eram estimados em cento e meio

E andavam sempre em grande agitação



Este negócio chorudo concerteza

Não escaparia ao grande aventureiro

Já demais que tinha boas relações

Com o navegante duque de Aveiro



Por ordem de El Rei D. João Terceiro

Para exercer no Brasil alta função

Fez partir Martins Afonso de Sousa

Com caravelas, naus e um galeão



Levava quinhentos homens a bordo

Com o fim de aquela terra explorar

rocurando desenvolver a agricultura

E a indústria do açúcar movimentar



Quando Martins Afonso volta ao reino

Era um homem feliz e cumpridor

onseguindo executar integralmente

O que lhe incumbiu o Rei seu senhor



Estava na ideia de D. João Terceiro

Converter a costa em capitanias

tribuídas a doze donatários

Com todos os poderes e regalias



Lemos navegou a costa brasileira

Durante alguns anos sempre a lutar

Ajudou Francisco Pereira Coutinho

Contra índios que se andavam a revoltar



Da capitania de Todos os Santos

Sendo Francisco Pereira donatário

Vem Lemos com sua gente socorrer Vasco

Gesto de um homem forte e solidário.



Por ajudar Vasco Fernandes Coutinho

Assegurar o seu rico património

O donatário do Espírito Santo

Cede a Lemos a Vila de Santo António



Depois de Lemos enfrentar os Aimorés

Com a sua força e autoridade

As férteis terras do Espírito Santo

Voltam novamente à normalidade



A cidade começava a florescer

As plantações entravam em movimento

Especialmente a cana-de-açúcar

O principal objectivo do momento



Quatro engenhos para o fabrico do açúcar

Entravam numa fase de construção

Realizando-se assim os grandes planos

Que para Lemos eram uma ambição



Veio Lemos ao reino novamente

Pedir ao Rei a sua confirmação

Daquela ilha de Santo António

Recebida há anos por doação



Veio a ceder o Rei D. João Terceiro

Em mil quinhentos e quarenta e nove

Na paga do seu brioso trabalho

Em todas as reformas que promove



Destinada ao Brasil, D. João Terceiro

Envia de Lisboa mais uma armada

Fazendo parte dela o barco Ajuda

Por Duarte de Lemos comandada



Nessa embarcação seguiu para o Brasil

Onde tanto de notabilizou

Era o jesuíta Padre Manuel da Nóbrega

Que a cidade de S. Paulo fundou



Desembarcaram no Brasil em Pereira

Povoação que nasceu à beira-mar

Onde construíram logo uma capela

Para a família ali poder rezar



Na nau Ajuda que era comandada

Por Duarte de Lemos seu capitão

Seguia a imagem de Nossa Senhora da Ajuda

Transportada com carinho e devoção



Tomé de Sousa foi capitão da armada

E das terras do Brasil, Governador

Partindo para o reino em trinta e dois

Esse grande aventureiro de valor



Entregou o cargo de capitão mor

Numa doação feita a Pêro de Góis

Donatário da ilha de São Tomé

No ano de quinhentos e trinta e dois



Em quinhentos e quarenta e seis

Estava Lemos em Porto Seguro

Na capitania de Campo Tourinho

Sempre com o vigor de um homem duro



Parte Lemos para a pátria novamente

Para descansar um pouco e repousar

Registando a sua presença na Trofa

Onde não se conseguia acomodar



Pouco tempo este fidalgo esteve ali

Preocupado com projectos em curso

Resolveu regressar imediatamente

Para fazer seus negócios no percurso



Lemos e Pêro regressam ao Brasil

Constroem engenhos de açúcar, celeiros

Reforçam reformas administrativas

E também constroem bons estaleiros



Deviam ter passado por São Tomé

Para juntar cana-de-açúcar e escravos

E ainda alguns técnicos daquele fabrico

Para trabalhar com engenhos já montados



Campo Tourinho entretanto é preso

Por abusos de poder decerto, cremos

Passando então sua capitania

Para o fidalgo Duarte de Lemos



Em mil quinhentos e quarenta e cinco

O primeiro açúcar do Brasil saía

A bordo do grande navio Braz Teles

Que o continente assim abastecia



O açúcar tão precioso para o reino

Fabricado no Brasil era o primeiro

Foi mencionado por Ambrósio Meira

Numa carta ao Rei D. João Terceiro



Tomé de Sousa Governador do Brasil

Ao reconhecer um homem forte e duro

Logo confiou a Duarte de Lemos

A capitania de Porto Seguro



Entretanto o herói e grande fidalgo

A quem a Corte para sempre ficou grata

Sonhava penetrar no interior

E ali explorar o Rio da Prata



Pr’ó Brasil seguem mais quatro Jesuítas

Dos quais, dois o fidalgo conhecia

Era Padre Manuel Paiva que era de Águeda

E Afonso Braz de Arcos de Anadia



O missionário de Arcos de Anadia

Arquitecto genial e de perfil

Na construção de igrejas e colégios

Trabalhou sessenta anos no Brasil



Deixou trabalho no Espírito Santo

Em São Paulo e no Rio de Janeiro

Foi padre, arquitecto, missionário

Pregador, instrutor e carpinteiro



Duarte de Lemos e Manuel Paiva

Com o fim de desenvolver a educação

Constroem o colégio de São Tiago

No melhor local daquela região



Morreu em Vitória este missionário

Terra onde teve notável acção

Foi o maioral do Espírito Santo

Onde esteve ligado à educação



Lemos regressa mais uma vez à pátria

Talvez com vida fosse a última vez

Os muitas anos de trabalho e luta

Iam desgastando a sua robustez



Já cansado o fidalgo volta ao Brasil

Para assistir a grande celebração

Era o casamento do seu afilhado

Filho do chefe gentílico de então



"Gato Grande" era o nome daquele chefe

Com quem boas relações sempre tivemos

Chegando Lemos a baptizar-lhe um filho

Dando-lhe o nome de Sebastião de Lemos



A vida do herói estava no seu fim

Fase negativa desse fidalgo afoito

Tendo sido arrebatado pela morte

em mil quinhentos e cinquenta e oito



Não se sabe ao certo onde Lemos morreu

Se na sua terra mãe ou em Vitória

Sabe-se que jaz ali no Panteão

Obra que imortaliza sua memória



Desapareceu assim um grande herói

Fidalgo da Trofa que tanto lutou

E como crente na imortalidade

Para sempre nela o fidalgo ficou



Sucedeu-lhe João Gomes de Lemos

Mas com uma controversa sucessão

Sem a confirmação do poder real

Do então Rei de Portugal, D. João



Foi nomeado escudeiro do Rei

Pelo que boa soldada recebia

Dois mil cento e sessenta reais por mês

E um alqueire de cevada por dia



Casou com D. Leonor Pinheiro

Que era irmã do Bispo de Viseu

Mas depois de obter dela dois herdeiros

Esta senhora muito cedo morreu



Sua segunda mulher, Isabel Távora

Era viúva de Jorge Maldonado

O fidalgo que já tinha falecido

Senhor da quinta de Niza e Morgado



Duarte de Lemos foi o seu herdeiro

E da Trofa veio a ser quinto senhor

Confirmado pelo Rei D. Sebastião

Pelo respeito a avô, ao seu valor



Ele protegeu a câmara de Aveiro

Da entrada da barra foi seu defensor

Ajudou sempre António Prior do Crato

Sendo a Filipe segundo opositor



Era tão grande o seu ódio ao Rei Filipe

Que para evitar homenagem prestada

Para se não cruzar por ele na ponte

Atirando-se ao Mondego com a montada



Um outro episódio se verificou

Quando um dia andava a lavrar

E os esbirros espanhóis lhe perguntaram

Onde o fidalgo podiam encontrar



Duarte de Lemos ordenou ao moço

Para lhe tirar as vacas do arado

E levantando o timão com as mão

Lhe apontou o caminho indicado



Quando viram aquele gesto, os emissários

Viraram as costas comentando algo

Se aquele senhor tinha assim tanta força

O que lhes viria a fazer o fidalgo



Ele casou com D. Maria de Távora

E doze herdeiros vieram a nascer

Sendo o mais velho João Gomes de Lemos

Mas que bem cedo veio a falecer



Morreu em mil seiscentos e dezasseis

Precisamente a onze de Fevereiro

Este homem fiel a D. Sebastião

E de Portugal amigo verdadeiro



Sucedeu-lhe Diogo Gomes de Lemos

Que veio a ser da Trofa sexto senhor

Casou com D. Mariana Coutinho

Sem conseguir filhos do seu amor



Mais tarde com D. Guiomar de Almeida

Em segundas núpcias veio a casar

De quem vieram a nascer três filhos

E mais dois vieram a legitimar



João Gomes de Lemos foi sucessor

E como era um padre Jesuíta

Veio o Papa a dispensá-lo do seu voto

E sétimo senhor da Trofa fica



A confirmação foi em cinquenta e dois

Pelo Rei D. João Quarto, o restaurador

Possuidor de Jales e Pampilhosa

E da igreja também o seu senhor



Casou com D. Madalena de Melo

Terminando aqui a sua geração

Por deste casal não haver herdeiros

Para dar aos Lemos continuação



Por motivo da morte de seu irmão

Jerónima de Lemos que era solteira

Ficou na posse da casa de seu pai

Por ser ela apenas a sua herdeira



Ao casar com Jerónimo de Carvalho

Dos Carvalhos o seu herdeiro varão

É-lhe cedido o senhorio da Trofa

Confirmado por Real Confirmação



O segundo filho deste casamento

Que fez parte de uma família briosa

É-lhe confirmado pelo Rei D. Pedro,

O senhorio da Trofa e Lamarosa



Foi em mil seiscentos e noventa e nove

Pelo Rei D. Pedro a confirmação

Por terem morrido dele três irmãos

Lutando nas guerras da restauração



Foi a Bernardo de Carvalho e Lemos

A cedência real por duas vidas

Do senhorio da Trofa, por mercê

Dessas vidas dos seus irmãos perdidas



Enorme era esta família dos Lemos

Que tanto lutou e dominou os mares

Como Sequeiras, Brites, Nogueiras

Da casa de Góis, Melos e Aguiares



Ainda nos aparecem os Pachecos

Sendo com Joana de Lemos um casado

Dela morre um irmão solteiro na Índia

Outro de Duarte de Lemos foi cunhado



No princípio do século dezassete

Uma grande peste o Vouga assolou

Em Covelas dizimou a população

Com excepção de algum que a deixou



Com o abandono da igreja matriz

Do malogrado povo que ali rezou

Esta veio a cair em degradação

Quando aquela gente a abandonou



Foi então que o pobre povo da Trofa

Que mais não tinha ali que uma capela

Pediu ao donatário daquela ermida

Que deixasse praticar o culto nela



Mesmo sem poder este povo cristão

Com a ideia de uma igreja construir

Ao grande fidalgo senhor da Trofa

Terreno para a mesma foi pedir



Pediram terreno ao donatário

Luís de Carvalho que era barão

No ano de mil setecentos e cinco

Para começar ali a construção



Cede-lhe então o grande donatário

E a igreja foi sonho realizado

Ficando o titular da casa de Lemos

Sempre com o direito a padroado



Esta cedência veio a confirmar-se

Por D. Pedro que era o Rei de então

Ao filho de Bernardo Carvalho Lemos

Luís de Carvalho, seu herdeiro varão
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Este direito à casa da Trofa

Que o Rei D. João Terceiro tinha dado

Em mil oitocentos e setenta e cinco

Tinha ainda direito a padroado


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