sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Fernando Braz da Costa

Fernando Braz da Costa (nascido em 1932, em Bicha Moura, Águeda) é um poeta popular com grande parte da sua obra dedicada a cantar a sua tehttp://www.blogger.com/img/blank.gifrra. Utiliza o pseudónimo de Braz dos Kiwis.

Entre as suas obras figuram:

Águeda que eu vivi
Os Lemos da Trofa
Poemas da Minha Lavra

http://poemas-poestas.blogspot.com/search/label/Braz%20dos%20Kiwis%20-%20Biografia

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A poesia do Sr. Braz, mais conhecido por Braz dos Kiwis esteve em alguns sites que não estão activos. Neste blog apenas se reuniu uma pequena parte desses trabalhos.

... Fotos, trabalhos por publicar, textos inéditos, entrevistas, os seus livros... e muito mais! Grande parte dos seus trabalhos referem-se à sua cidade natal, Águeda.

http://members.xoom.com/brazdoskiwis/(não activa)

versos da Minha Lavra - © Braz dos Kiwis 1996 - 1998

http://www.terravista.pt/AguaAlto/1212/ (não activa)

A poesia e história de Águeda pelas mãos do senhor Fernando Braz da Costa. Todos os seus trabalhos e algumas fotos. Página elaborada por J.P. Casainho. Casainho@hotmail.com

brazdoskiwis.cjb.net

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Adolfo Portela

Portela foi genial Poeta de Águeda

Que tanto honrou e nome lhe veio dar

Amou-a como ninguém, e mesmo longe

Teve sempre tempo p’ra dela falar



Sua Terra cantou com o coração

E um dia "Águeda a linda" lhe chamou

Falou dela , foi grande historiador

E com inspiração sempre a retratou



Pertencia à família ilustre dos Pintos

E na rua d’além da Ponte nasceu

Baptizou-se na igreja de São Miguel

Em Recardães ,Conselho a que pertenceu



João Baptista de Figueiredo Breda

Foi o Presbítero que o baptizou

Numa cerimonia bastante apressada

Que a falta de saúde originou



Foi Maria Margarida Oliveira

E seu irmão, seus padrinhos afinal

O Padre Francisco da Costa Portela

Mestre no Porto, do Liceu Nacional



Impôs-se na poesia com talento

Com palavras pelo coração ditadas

Escreveu "Pela Africa" , "Sol Posto"

"Toadas da Nossa Terra" e "Orvalhadas"



Na prosa sua caneta foi pincel

Com que a sua Terra foi retratada

Falou-nos de Águeda, da sua gente

Dos costumes e do Rio que cantava



Escreveu "Boémia Lírica" e "Águeda"

"Contos e Baladas" , "Jornal do coração"

E "Por Bem de Águeda", "País do Luar"

Algumas obras escritas no Fundão



Deixou peças de Teatro importantes

Como "Manga do Frade","A Festa do Pão"

O "Tambor da Folia" e "Flor do Linho"

E ainda a peça "A Noiva do João"



Era um Homem de letras e da música

Facetas que sua linda História narra

Foi Coreografo e ensaiador de Ranchos

E um afamado mestre na guitarra



Ele compôs diversos números orfeónicos

Como a "Jangada" e " Salva Rainha"

Também a linda música do "Lindó"

E a canção "Cantigas à Rapalhinha"



Musicou "Dueto do Amor" e "Fandango"

"Burros", "Balada do Galo", "Rantamplão"

"Barcarola", "Palhinhas e Travadinhas"

Tudo escrito com arte e inspiração



Ainda musicou "Luar da Meia Noite"

"Chácara da Joaninha Lavadeira"

"O Dueto dos Goivos" e "Canta a Mó"

Algumas compostas na Cova da Beira



"O Coro do Rapto" , "Manga do Frade"

"Goival da Cruz", são frutos do seu talento

Como aquela música imortal

Da canção "Senhora do Livramento"



Ao acabar o seu quinto ano jurídico

Uma grande récita se preparou

Sendo alvo de aplausos ruidosos

Essa peça que Ele próprio musicou



Em mil oitocentos e noventa e um

Aproveitando estas músicas belas

Foram adaptadas na sua integra

Na Opereta "As Freiras de Odivelas"



Em mil oitocentos e noventa e três

Toda Águeda estava em grande vibração

Ao ver representada no Pessegueiro

A linda comédia "A Noiva do João"



Mais tarde no Teatro do Orfeão

A nossa terra voltava à euforia

Em mil novecentos e quarenta e cinco

À reposição da peça se assistia



O grande espólio literário dos Pintos

Que a importante família nos legou

Entrou na Biblioteca Municipal

No dia em que esta se inaugurou



Neste acto orou Ângelo de Almeida Ribeiro

Enaltecendo o poeta, a sua raça

Orou Conde de Águeda e António Breda

E Serafim Gabriel Soares da Graça



Falou de Portela o conterrâneo Toy

E o grande escritor Ernesto Ruela

Por ter sido um aguedense apaixonado

Por gostar da nossa terra e falar dela



Até o Conselheiro Afonso de Melo

Em reparos importantes , sempre franco

Exalta Portela na "Festa do Pão"

Apresentada em Castelo Branco



Por iniciativa de António Breda

E Joaquim de Melo Pinto Leitão

A Fotografia a óleo de Portela

Ficava exposta no Nobre Salão



Foi este o melhor gesto de gratidão

Deste Povo grato, que o não esquece

Esperando um dia fazer justiça

E Lhe prestar a homenagem que merece



Águeda 1996


© Braz dos Kiwis 1996 - 1998

terça-feira, 5 de julho de 2011

Soberania do Povo

Os Fundadores da "Soberania do Povo"



Em mil oitocentos e setenta e nove

Um grande jornal em Águeda foi fundado

Foi o jornal "Soberania do Povo"

Que a um de Janeiro foi inaugurado



Seus fundadores, Homens de grande valia

Eram os Homens mais importantes de então

Que a uma causa nobre se entregaram

Defendendo Águeda de alma e coração



Uma dúzia de Homens fizeram História

Neste jornal que veio para ficar

Sendo hoje o semanário mais antigo

Que se publica no nosso Portugal



Em mil oitocentos e quarenta e quatro

Nasce Albano de Melo, grande Aguedense

Formou-se em direito aos vinte e oito anos

E à causa de Águeda foi muito persistente



Foi grande animador da Soberania

E foi Governador Civil de Aveiro

Foi presidente da Câmara Municipal

E mercê do seu talento, Conselheiro



Governador Civil de Castelo Branco

Foi um dos grandes cargos que ocupou

Foi Deputado a varias Legislaturas

Em que por Águeda Ele sempre pugnou



Na pasta do Ministério da Justiça

Foi sempre um distintíssimo Director

Foi ainda vereador da Câmara de Águeda

E da Junta Geral seu Procurador



Um dia, Albano de Melo no Parlamento

Falando de Águeda com uma paixão tal

Levantou a sua voz vibrante e disse:

Águeda é a terra mais linda de Portugal



Era bacharel, formado em direito

O Joaquim de Melo Ribeiro Pinto

Foi fundador da "Soberania do Povo"

E era um Homem bem formado e distinto



Doutor Manuel Rodrigues da Silva Pinto

Na escola médica do Porto formado

Acabou por ser professor da mesma

Onde foi um mestre muito destacado



Em mil oitocentos e setenta e quatro

Consegue da mesma escola ser lente dela

Revelando muito talento e saber

Esse Homem, irmão de Adolfo Portela



Numa audiência em pleno tribunal

Acabou com duvidas e falsas suspeitas

Tendo uma intervenção muito enérgica

No julgamento ao Doutor Urbino Freitas



Com grande amor à causa da sua terra

Eduardo de Melo Ribeiro Pinto

Foi fundador da Soberania do Povo

E um funcionário Público distinto



Padre José de Melo Ribeiro Pinto

Também fez parte da sua fundação

Foi Pároco freguesia de Águeda

Que serviu com tanto amor e devoção



Foi ainda Luiz de Melo Ribeiro

Funcionário Público de profissão

Que ajudou a nascer a "Soberania"

O maior jornal da nossa região



Era bacharel formado em Teologia

E da "Soberania"foi seu fundador

O Arcebispo Manuel Baptista da Cunha

Que da Sé de Braga foi bom servidor



Este Homem importante de Paradela

Num acto tão sagrado e tão solene

Em mil oitocentos e oitenta e oito

Foi sagrado Arcebispo de Mitilene



No ano de mil novecentos e três

Na terra de Vila do Conde morreu

Para onde foi desterrado dois anos

Por motivos políticos em que se envolveu



A pastoral dos Prelados Portugueses

Que o distinto Arcebispo assinou

Deu origem a este triste desterro

Que o governo vigente decretou



Em mil oitocentos e vinte e dois

José Joaquim da Silva Pinho nasceu

Formou-se em direito, foi grande político

E aos doze fundadores ele pertenceu



Escreveu "As Meninas Mascarenhas"

Esteve na vereação Municipal

Foi ainda do Distrito de Aveiro

Procurador digno da Junta Geral



Morreu em mil oitocentos e setenta e nove

E Jafafe a sua terra natal

E como apaixonado progressista

Manteve até à morte o seu ideal



Também o Doutor Mateus Pereira Pinto

Que da Soberania foi seu fundador

Era Pai do Doutor António Breda

Que do Hospital foi grande Operador



Pertencia à linha progressista

Era natural de Barrô, sua terra

Morreu em mil novecentos e onze

E foi um exímio escritor dessa Era



Esteve na fundação da Soberania

O proprietário do Solar da Espertina

José António de Oliveira Baldaia

Que foi Homem de uma linhagem fina



O farmacêutico Manuel Maria Ala

Que em Águeda a primeira farmácia fundou

Foi Vereador da Câmara Municipal

E em farmácia se notabilizou



O Doutor António Rodrigues Pinto

Que em direito era Bacharelado

Foi também fundador da Soberania

E como outros, esteve sempre a seu lado



São nomes imortais da Soberania

Que com o correr dos anos vão ficando

E como tantos Homens de valor

"Se vão da lei da morte libertando"

Águeda 1995

© Braz dos Kiwis 1996 - 1998

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Águeda que eu vivi

Águeda como é tão bela e preciosa
Como é tão linda a origem de onde vem
Casal do Lousato foi seu embrião
E Mártir Santa Eulália, sua mãe

Como eras tão atraente ó minha terra
Tinas um aspecto encantador e lindo
Pois nada precisavas para ser bela
Das belezas naturais usufruindo

Por isso um poeta ao contemplar-te
Apaixonado "Águeda a Linda" te chamou
Quando ausente te levou no coração
E não se esqueceu de ti, sempre te amou

Não se vislumbram agora os teus encantos
Desses tempos que eras linda e bela
Tão linda como Ruela te escreveu
Tão linda como te cantou Portela

Tinhas a pureza da serra, do campo
E gente ao calor, ao pó, nas sachadelas
Tinhas milho azevém e os pampilhos
O cantar das rãs, dos grilos e das relas

Nos açudes erva doce e rosmaninho
Cheirava a alecrim à porta dos casais
Pelo monte a flor da gesta, da carqueja
E papoilas misturadas nos trigais

Tinhas na serra o lindo nascer do sol
Que dava luz e calor ao rico e ao +pobre
E o pôr do sol a mergulhar no mar
Quando o crepúsculo da noite o encobre

Tinhas rio com água pura e corrente
Onde havia peixe e atletas a correr
A verdura dos choupos e salgueiros
E o cantar do melro ao amanhecer

E quando a noite avançava nas aldeias
E as suas gentes entravam em sossego
Ouvia-se o cantar da coruja, do mocho
E o piar estridente do morcego

Tinhas as noras com o seu chiar dolente
Que rolavam sempre de noite e de dia
Para abastecerem água para as regas
Cada um na hora que lhe pertencia

Viam-se pelo campo os estanca rios
Juntinhos ao rio para a água tirar
Eram movimentados por uma vaca
De olhos vendados à roda sem parar

Minha terra tinha tanta coisa linda
Eu bem me recordo, era ainda novo
Não havia muito pão, devido à guerra
Mas vivia muito mais feliz o povo

Onde estão o coreto, o lago, os gansos
A linda casa dos Paços do Concelho
Onde está a fonte daquela água pura
Juntinho mesmo ao município velho

Tanta gente ali matou a sede
Nas duas bicas de água pura e corrente
Bebeu lá o Zé Tendeiro em certos dias
Mesmo com o Candeeiro ali de frente

Ela passou para a praça do Município
E foi transportada com tal jeitinho
Que os leões que suportavam a pia
Fugiram e perderam-se no caminho

A pobre daquela fonte centenária
É muito triste o fado que ela tem
Desmembrada, sussurra, só faz barulho
Sua água não mata a sede a ninguém

Onde está o fontanário da Praça Velha
Os barquinhos do André a navegar
O ginásio onde estava a Ti Custódia
E a Voz do Botaréu sempre a tocar

Era o Tenente Flores a alegrar a terra
Com seu estúdio por ele ali montado
Onde transmitia sempre boa música
Ou algum disco para alguém dedicado

Do Jardim Velho até ao Botaréu
Para ouvirem os discos dedicados
Nesse lugar que era muito concorrido
Passeavam os casais dos namorados

Gente muito ilustre de Águeda ia à Custódia
Procurando o bom café que ela tinha
Até mesmo o Padre Óscar pela calada
Ia ali para beber sua ginjinha

Jogava-se lá bilhar e Ping-pong
Por dez tostões apenas cada jogada
Também o dominó, as damas, as cartas
E quantas vezes até de madrugada

Como era lindo ouvir as serenatas
Quando a lua ia alta, à luz do luar
E a voz cristalina do Alcino
Encantava todos com seu cantar

Há um fado que ele cantava tão bonito
E que sempre cantou ao longo da vida
Tinha uma letra de autor desconhecido
Era conhecida de Guitarra Querida

Assim Alcino se habituou a cantar o fado
E hoje com uma voz sem igual
É considerado nos meios artísticos
Como um dos melhores cantores de Portugal

A cúpula do céu, a lua e as estrelas
Eram o auditório para os cantores
Sua voz entoava suavemente
Quando a noite era calma e sem rumores

Cantou o Bibi e o Rui Vitaliano
Jorge Preto com sua voz de encantar
Acompanhado às vezes com instrumentos
Que davam mais vida ao seu cantar

Quando se ouvia o Hernâni Cabaço
Dando à noite um timbre invulgar
As meninas vinham todas às janelas
Só com o prazer de o ouvir cantar

Entoava lindos fados de Coimbra
Apreciados aqui no nosso meio
Cantava muito bem "Olhos Castanhos"
E a linda canção "Marco do Correio"

Como era consolador ouvir o Dário Vidal
Silveira Martins com o seu fado dolente
O Adolfo e o amigo Carvalho
O Nobre, Martins e António Doente

Era um rouxinol o amigo Valantas
Sempre com sua viola afinada
A cantar lindas canções mexicanas
Toda a noite até romper a madrugada

Quando a sua voz à noite se ouvia
À janela das garotas a cantar
Deliciáva-as com uma linda canção
Que eu quero agora aqui recordar

"Acorda se estás dormindo
Nesse sono enlevado
Acorda, vem à janela
Vem ouvir cantar o fado"

Cantava um fado o Silveira Martins
Que ele diz agora ter esquecido
Mas que eu quero recordar porque o ouvi
E que era o fado dele preferido

"Você não sei bem porquê
mas gosto de vê-la
você não sei bem porquê
não posso esquecê-la

Você finge que não vê
e que não dá por tal
talvez um dia você
venha a ter tormento igual

Você que desgraça
por mais que lhe faça
não gosta de mim
você bem podia
ser minha alegria
no entanto é assim

Você castiga
por mais que lhe diga
não mostra saber
você sempre esquiva
vaidosa e altiva
você não me quer"

Cantava o Gomes o fado de Lisboa
E o Zé Bala o fado de Coimbra
O nosso querido Alípio também se ouvia
Com sua voz encantadora que à noite timbra

Cantou César Maceta e Néu Funa
Cantava bem o Franquelim da Borralha
O Zé Pedro com a sua viola
A cantar os velhos fados p’rá maralha

Quando o Pedro cantava à namorada
Ou por ela muito apaixonado fica
Cantava com uma voz sentimental
"Ouve-me, meu amor, Virita, Virita"

O Alípio está ausente no Brasil
Traz sempre boa mensagem prá gente
Gosta d’Águeda e quer sempre falar dela
Porque nasceu cá, amor por ela sente

José Júlio Ribeiro também cantava
E a sua voz era muito apreciada
Como o doutor Martins com a sua viola
A cantar fados de Coimbra e balada

Doutor Madeira, exímio cantor
O fado de Coimbra é sua paixão
Cantou serenatas ainda estudante
Com a companheira guitarra na mão

Quem teve o privilégio de ouvir o Rui Vulga
A sua voz linda não havia igual
Como o Melo e o amigo João Saldanha
E lá pela Arrancada o Zé Vidal

Tinha voz inesquecível o Salgado
Ela cantava com muita categoria
Pessoas de idade vinham à janela
Quando pela noite a voz dele se ouvia

Também cantou o fado de Coimbra
O saudoso estudante Alfredo Costa
Como o Maximiano, o velho Escola
A cantar canções que tanto gosta

A minha terra tinha um ar tão diferente
Quando a Páscoa vinha era uma alegria
Águeda tinha um ar mais perfumado
Quando à semana Santa se assistia

Oh, como em criança tudo era diferente
De calções e bibe, as meninas com laços
Pela Páscoa com sentido nas amêndoas
De saco ao pescoço a pedir para os Passos

Essas Páscoas, ó Águeda eu não esqueço
O teu seio exalava tal cheirinho
As tuas ruas cobertas de verdura
Impregnadas de cheiro a rosmaninho

A Semana Santa, quem se lembra
Das cerimónias, das grandes pregações
Em que o povo aparecia todo em massa
Acompanhando as diversas procissões

De quarta feira até Domingo de Páscoa
O povo com respeito e devoção
Ia ao adro que estava sempre cheio
Para ouvir do senhor padre o seu sermão

Começava em quarta feira de Trevas
E todo o rapazio em geral
Aparecia nesse dia com as tréculas
E fazia um, barulho infernal

O ruído que faziam na igreja
Tinha sempre um período limitado
Mas se algum malandreco excedia
Deixava o senhor padre arreliado

Desde que começava a Semana Santa
Para iluminar a todo o instante
Até ao Domingo da Ressurreição
Estava a arder um círio gigante

Quando passava o senhor morto
Todo o povo com respeito e devoção
Vinha ouvir cantar a Verónica
No percurso de tão triste procissão

Belas vozes cantaram o Vos Omnes
Nas paragens ao longo da procissão
Cantou a Canquiça, a Rosa do Gravanço
Com linda voz como Odete do Sardão

Ensaiou muitos anos o Vos Omnes
Godofredo Duarte que foi grande regente
Homem de grande talento musical
Que bonitas obras deixou à gente

Ofereceu uma música da barcarola
Que guardo ainda com muito carinho
Com ela ganhei um prémio em Cesar
Com o rancho "Os Malmequeres de Campinho"

Ensinou a Glória dos padres-nossos
Também ensaiou o padre Rachão
O nosso saudoso padre Amílcar
Que Águeda chorou sua separação

Pelos Ramos era lindo ver no adro
Altas cruzes que eram bem ornamentadas
Revestidas a alecrim e muitos lírios
E pela rapaziada transportadas

Grupos de moços vinham a pé
Deslocando-se de toda a Freguesia
Com gigantes e pesadas cruzes
Que o senhor padre na igreja benzia

Todos procuravam trazer a melhor
Cruzes grandes, coisa que se veja
De tal maneira que a maior parte delas
Não as conseguiam meter na igreja

Com aprumo, muito respeito e fé
Já sagradas para o cristão verdadeiro
Depois de benzidas vinham em procissão
E circundavam o tão velho cruzeiro

E na crença deste povo tão cristão
O alecrim benzido era guardado
Para quando viesse a trovoada
Por entre duas telhas ser queimado

O seu cheirinho chegava ao céu
Como o incenso que tão bem cheira
Para que Deus desviasse a trovoada
Para onde não houvesse eira nem beira

Paredes apresentava a maior cruz
Que eram por muitos moços transportada
O seu peso ultrapassava os cem quilos
E era com quatro cordas segurada

Alguns rapazes que me lembre
que levaram a cruz no último ano
Foram Augusto Jeitosinho, Néu Charra
António Salazar, Joel e Herculano

Fizeram ainda parte Eugénio Preto
António Chula e o Nito Estica
E a cruz que seguia sempre deitada
No regresso encoastda à capela fica

E depois de estar ali durante meses
Onde o povo ia tirando o alecrim
Foi pr’á eira do senhor Dionísio Chula
Sendo ali que veio a ter seu fim

Nos anos atrás havia um outro grupo
Levaram uma cruz deitada com jeitinho
Tunha um peso à volta de duzentos quilos
Sendo o principal o Augusto Carapinho

Foram grandiosas as festas da paz
Feitas em honra de S. Sebastião
Com um programa de festa nunca visto
As melhores a este santo até então

Era obra de arte o Arco do Triunfo
Por onde veio a passar a procissão
Exalando um nevoeiro perfumado
Do doutor Adolfo imaginação

Teve um programa rico e variado
Foram as festas mais lindas que eu vi
Com boa iluminação e fogo preso
E a voz encantadora do Bibi

As festas de S. Pedro em Assequins
Estão bem patentes na minha memória
Donde vieram a nascer dois ranchos
Que honraram Águeda e fizeram história

Como era lindo o cortejo das colheitas
Que foi feito a favor do Hospital
Com muitos ranchos e carros alegóricos
Levando prendas e dinheiro em geral

Vinham ranchos de todos os lugares
Vestidos com lindas roupas a rigor
Interpretando canções maravilhosas
Ao som da pandeireta, do tambor

Num cortejo que me lembre, que beleza
Gente de Assequins com alegria sua
Cantava "Rancho d’Além", "Gota Espanhola"
E cantava o Cabo a "Marcha da Rua"

A vinte e dois do dez de qyuarenta e nove
Na escola dos Sargentos, em plena praça
Assistiu-se ao "Auto da Raínha Santa"
De Serafim Soares da Graça

Um cortejo ao sabor do século catorze
Com trombetas, pagens e escudeiros
Dezenas de cavaleiros com estandartes
E a iluminar as ruas, os archeiros

O grande cortejo saia do Joinal
Depois de cair grandes chuvadas
E as ruas sem a luz municipal
Ficavam com archotes iluminadas

Foi um espectáculo maravilhoso
Que foi interpretado por bons actores
Sobresaíndo o papel maravilhoso
Representado aliu por Orquídea Flores

Eram deste grupom ainda actores
José Silva, José Breda, Manuel Guerra
Fernando Brinco da Costa, Jorge Vargas
Todos eles grandes valores da nossa terra

Também Luciana Guerra, Alfredo Costa
Carlos Veiga, Eduardo Pinho
Gente que fez parte deste grande elenco
Que seguiram do cortejo seu caminho

Este lindo e memorável espectáculo
Teve em Marques Gomes figura principal
Com a Escola Central de Sargentos
Hospital e Câmara Municipal

Que bonita a festa do Souto do Rio
Toda a gente ia ali merendar
Havendo uma ponte feita em madeira
Para pr’á outra margem atravessar

Seguiam maltas a pé ou de bateira
Outros utilizavam os mercantéis
Sem se esquecerem do barril da moringa
E do açafate com os seus farnéis

Com cestos num pau pendurados às costas
Levando cada um o que quer e gosta
Lá seguiam penduradas as condessas
Mas sempre com um pano de linho à mostra

Festas houve a favor da sopa dos pobres
Organismo que o padre Amílcar fundou
Ajudado por um grupo de senhoras
Que nesta tarefa tanto o ajudou

Algumas destas generosas senhoras
Que trabalhavam sempre com muito afinco
Foram Gina Candeeiro, Rosa Pinho
Maria Augusta e Ernestina Brinco

Foi também D. Irene Marques Gomes
Maria Corga e Maria Ester Camelo
Que acompanhavam sempre esta jornada
Com amor aos pobres e bastante zelo

Alguns pobres iam mesmo *a Venda Nova
Onde tinham sopa, pão e às vezes vinho
Mas os que não podiam sair de casa
Era-lhes entregue com o mesmo carinho

Pelo Natal e Páscoa havia festa
Até comiam rancho melhorado
Arroz doce, aletria, boas filhós
Sendo tudo por pessoas de bem dado

Generosa com pena dos pobrezinhos
No hospital havia uma santa senhora
Que dava uma malga de sopa e bom pão
Era a saudosa Irmã Superiora

Ela praticava o bem e não negava
A quem quer que fosse um bocado de pão
Até mesmo agasalho fornecia
Era assim seu prestimoso coração

Acima da ponte a uns duzentos metros
Lá estava a piscina do Algés
Onde toda a mocidade ia nadar
E os mais velhos iam molhar os pés

Ao meio da tarde apareciam miúdos
Para praticar ali naquela escola
Onde aprendiam bem a nadar no rio
Com as boas lições da Lola

Durante trinta anos ensinou
Centenas de crianças a nadar
Fazendo sempre um trabalho prestimoso,
Com entusiasmo sem nada ganhar

Entusiasta era grande nadadora
Praticava natação de muito nova
E chegou mesmo a ganhar uma estafeta
Nadando de costas nessa mesma prova

Seu marido foi um grande nadador
Alinhando em alta competição
Dando luta ao afamado Petroni
Ao Mário Simas e até ao Trovão

Formaram-se ali bons nadadores
Que nos deixaram boas recordações
Como João Mano, Bério, Manué
E outros que até foram campeões

Nesse tempo foram grandes nadadores
Alcançando até o lugar primeiro
Bernardino Saraiva, José Rabeca, Bério
Jorge Cera, Dinis e José Júlio Ribeiro

Grande nadador foi também o foguete
E o António da Graça, o Salazar
Os dois Gastões e até o Gastão Velho
E outros mais que eu quero recordar

Dinis de Recardães, Sílvio Tanoeiro
Irmãos Martins, Carlos Salgado, André
Fernando Moreira, João Fuso, João Brinco
Feliciano Lima e irmão, José

Fui muitas vezes para o rio, tirava a roupa
E andava muito tempo a nadar
A dar tempo que minha a lavasse
Para ser vestida depois de secar

Que prazer apanhar canas de foguetes
Para aproveitar os fios dos canudos
Que serviam para segurar estrelas
Feitas por nós quando éramos miúdos

Papagaios de cana e de papel
Com sua enorme cauda a esvoaçar
Era ver quem conseguia a maior
Para mais horas poderem flutuar

Jogávamos ao calhamontra, à bilharda
Às escondidas, às malhas, ao botão
Ao berlinde, santa matuta, gazolo
À semana, pitorra, côncra, pião

Nos combros pela escuridão da noite
Como era bonito ver os luze-cus
Esses lindos insectos voadores
Que nos irradiavam raios de luz

Na mira de conseguir uma moeda
Segundo a crença que já vinha dos pais
Eram metidos debaixo de uma malga
Para lá deixarem um tostão a mais

Geralmente procurávamos nos vimeiros
As interessantes e frágeis joaninhas
Era um prazer apanhar estes insectos
Por serem de cor vermelha, às pintinhas

Apanhávamos estes lindos insectos
Eram colocados na palma da mão
E então dizíamos a lenga-lenga
Que há longos anos vinha de tradição

"Joaninha voa, voa
Que teu pai está em Lisboa
Traz um saco de farinha
Para dar à joaninha"

Era um prazer apanharmos as carochas
Que trazíamos com um fio penduradas
Ou atacar com calhaus as sardaniscas
Quando estavam nas pedras recostadas

Quase todos os rapazes tinham fisga
Para andarem à caça da passarada
E alguns tinham uma tal pontaria
Que matavam os passarinhos à calhoada

Que bons os morangos silvestres da Corga
Quando em tempos, por ali tantos havia
Ou as pequeninas cucas dos carvalhos
Que a rapaziada às vezes comia

Quantas vezes andávamos pelos combros
Procurando as amoras nos silvados
Ou medronhos vermelhinhos pelo monte
Fruto lindo que era tão apreciado

Para apanhar pintassilgos e pintarroxos
Aos domingos p'rós lados do ribeirinho
Andava por lá tanta rapaziada
Por haver por ali tanto passarinho

Utilizavam pontas de piassaba
E revestidas de visgo, muito aderente
Que colavam as asas das avezinhas
Ficando então ao alcance da gente

Andava por lá sempre o Raúl, Ribeiro
E o Zé Rachinhas aparecia às vezes
Como o marinheiro, António Moreira
O Armando Chibeiro e o Lanheses

Aparecia o ti Alfredo Tamanqueiro
Como Moita e o Elói que era vizinho
Adorava apanhar estas avezinhas
Que depois tratava com muito carinho

Ele tinha na loja tanta passarada
Que davam à rua vida e alegria
Cantavam canários e pintassilgos
E os lindos melros ao longo do dia

Havia um grupo lá pelo Botaréu
Que jogava à bola, às vezes de trapos
Era confeccionada com uma meia
Que só era cheia apenas de farrapos

Jogava Manuel de Oliveira, o Moina
José Júlio Ribeiro, Feliciano
Manuel Alegre, José Lima e Fuso
Carlos Leite, João Júlio e Mano

Às vezes jogava o Perna-Marota
O Alfredo Lima, o Firmino Gaspar
E quando apanhavam bola de borracha
Era caso mesmo para festejar

A Rua de Baixo tinha agitação
Com a oficina do Chico Marceneiro
Uma movimentada tinturaria
E o Daniel que era sapateiro

Também tinha a oficina do Canário
Onde um dia enorme incêndio deflagrou
Que deu origem a criar os Bombeiros
Que o Neca Carneiro com outros fundou

Tiveram lá início as Caves Monte Alto
Onde o Canal sete se encontra instalado
Passando depois para Além-da-Ponte
Onde muito vinho foi engarrafado

Transformaram-se as caves num lindo bar
Que apresentava sempre vinho do mais fino
E café que alcançara tanta fama
E que lhe deu o nome Bar Cimbalino

Foi lá que viveu o amigo Moina
E o grande poeta d' Águeda nasceu
Foi lá que tocou viola o Américo
E onde Celestino Neto viveu

Foi lá que o forno do Abel da Benta
Mesmo aos domingos tantos leitões assou
Que ele próprio vendia na praça velha
Onde tantos bons clientes aviou

Havia nesta rua a pensão Barata
Que teve sempre boa clientela
Era frequentada por muitos Sargentos
Que a preferiam e gostavam dela

A rua da Cancela tem grande história
Junto de um casa em que eu próprio vivi
Fazia lá bons doces a Libânia Loira
Que tantas vezes me dava e eu comi

A Fábrica de Produtos Químicos Pomba
Era empresa de pequena dimensão
Fabricava graxa, tintas, vernizes
Diluente, lacre cola e zarcão

Era o Joaquim Matias o seu dono
Com quem eu próprio convivi muita vez
E que mais tarde, na rua Lourenço Peixinho
Vendia lá calçado, Campeão Português

Viveu lá o grade artista Pechilo
Que lindos fogões de lenha fabricava
Até mesmo a ti Iria do quiosque
Que na sua casa frente a mim morava

Na casa do senhor Hélio Sucena
Que foram meus vizinhos e meus amigos
Quando no tempo das guerras liberais
Ali foram alguns soldados socorridos

Depois de ser demolido o hospital velho
À passagem da estrada número um
Era ali o hospital alternativo
Por não haver cá na vila mais nenhum

Foi feito um onde está o Sotto Mayor
E que até não chegou a laborar
Por motivo de condições higiénicas
Que o impediram de funcionar

Nesta rua da Cancela onde eu morei
Num compartimento do Manuel Simões
E à noite para ver televisão
Pagando de cada vez só dez tostões

Já pelas altas horas da madrugada
Quando a luz do luar nesta rua espelha
Funcionava ali um pequeno bar
A que chamavam a lanterna vermelha

Nesse bar que estava limpo e esmerado
Era ali que muito amigo se encontrava
Já depois de ter fechado os cafés
O Manuel Simões a todos aviava

Tantas noites se mantinham em convívio
Saindo a horas próximas do trabalho
Por terem ali petiscos a sair
E caldo Knorr temperado com sal-de-alho

Aparecia lá o Maximiano
O Adolfo, o Sousa e até o Bibi
Álvaro Breda, Nobre, Hernâni Cabaço
O Vidal e o Martins todo pipi

Ainda o Dário, Raúl Neves, João Breda
Arreganha, Manuel Correia, Sucena
Noronha, Guilherme, doutor José Maria
Girão e outros amantes da verbena

Rua de lavadeiras e prostitutas
Em tempos idos quando ali vivi
Eram lavadeiras a Pega e a Eva
Prostitutas a Magna e a Matari

As prostitutas eram mulheres de bem
Era um recurso para ganhar a vida
A guerra era causa de não haver pão
Miséria que ainda não foi esquecida

Quando a Matari entrou na reforma
Pedia esmola aos seus velhos clientes
Era geralmente de frente ao Camossa
Nem que estivessem as mulheres presentes

Esta linda rua saudades me deixa
Os meus tempos de infância me deixam pena
Quando convivi com grandes amigos
Foram eles José e Paulo Sucena

O largo da Venda Nova, que lindo
Era um encanto nesse tempo ido
Com a fonte tão bela com uma bomba
Que fora feita só de ferro fundido

Onde está a Câmara Municipal
Esteve o Campo de S. Sebastião
Onde o Recreio tantas vezes jogou
E o ti Firmino semeou o grão

O ti Firmino do Vale, meu avô
Muitos anos aquela terra amanhou
Entregou-a para o campo do Recreio
Onde um caminho de glória começou

Nas escarpeladas feitas em Setembro
Aparecia a malta para ajudar
Na mira de apanhar a espiga vermelha
Para as raparigas poderem beijar

Muitas vezes os rapazes de Paredes
Atravessavam de bateira o rio
Para ir escarpelar a Recardães
Em noites de orvalho e muito frio

De regresso os mais malandros e mais fortes
Quer fosse ao domingo quer fosse à semana
Iam de bateira fazer um assalto
Ao pomar da D. Maria Joana

Tinha laranjas de boa qualidade
E eram tantas que até vendia
Mas havia uma malta de Paredes
Que a maior parte da produção comia


http://www.eq.uc.pt/%7Ejorge/BRAZ/aguedavivi.html

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Mercado, anos 50

Mas que lindo era o mercado
No cais abaixo da ponte
Estava bem ordenado
Não havia nada a monte

Era bem organizado
Andava tudo na linha
Porque quem mandava ali
Era o amigo Burrinha

Trazia consigo aos ombros
Carteira de cabedal
Onde em troca de uma senha
Lá metia o capital

Era lindo ver serranas
Com as canastras no chão
Vendendo queijos fresquinhos
No meio da multidão

Nas canastras bem limpinhas,
O queijo vinha acamado
Era assim que o transportavam
Coberto com oleado

Mesmo encostado à ponte
Se vendiam protectores
Era tacha e era brocha
Em bastantes vendedores

Tudo vendido à dúzia
Em troca de alguns vinténs
Vinham alguns da Mourisca
Da Trofa e de Segadães

Mesmo ao lado do rio
Todos bastante alinhados
Estavam homens da carne
Com talhos improvisados

Vendiam carne de porco
Matança do seu trabalho
Também vendiam fressura
E tripas de Vinho d’alho

Bons cabritos vindos da serra
Bons borregos e carneiros
Havia rojões e banha
E até enchidos caseiros

Vinham cabritos da serra
Com guardadores a seu lado
Andavam dias a pé
Até chegar ao mercado

No matadouro em Paredes
Eram todos recebidos
E pelo Zé dos Cabritos
Eram muitos abatidos

Na festa de Assequins
Nossa senhora da graça
Matava muitos carneiros
Carneiros de boa raça

Numa festa que me lembre
A coisa foi por de mais
Abateu naquela terra
Cento e setenta animais

Também o amigo Girão
Com sua voz roufenha
Abatia bons carneiros
Fazia boa campanha

Ao José fazia frente
Seu gado não era mau
Matava muitos carneiros
Naquela festa do pau

O gado ali era morto
Mesmo em casa do freguês
Sempre com direito à pele
Que era tirada da rês

Na velha bicicleta
Transportava o seu gado
Metido numa canastra
Com destino ao mercado

O amigo Zé da Deia
Matava porcos caseiros
Tinha fama a sua carne
E até os seus fumeiros

A Zínia da Venda Nova
Lá estava no mercado
Com os seus oitenta anos
Também vendia bom gado

Carne de vitela ou porco
Na troca de mais dinheiro
Só no mestre Manuel do Talho
Ou no talho do Gameiro

Mais tarde veio o Hilário
Com boas carnes também
Mesmo perto do Barril
A todos servia bem

Estavam lá galinheiras
Com coelhos e borrachos
E também frangos caseiros
Que enriqueciam bons tachos

Utilizavam canastras
Era o sistema de então
Todas cobertas de rede
Servindo de protecção

Vendia-se milho e trigo
Aveia e azevém
Tudo vendido ao alqueire
Até à rasa também

Também os tamanqueiros
ali iam todo o ano
vender tamancos chiolas
E até chinelas de pano

Vinham ainda picheleiros
A vender lindas candeias
Que era fonte de luz
Para o povo das aldeias

Vendiam almudes cântaros
Até pr’á roupa bacias
Lindos funis regadores
E até almotolias

Picheleiros afamados
Que trabalharam por cá
Chico Carteiro e Gil
João Latoeiro e Pachá

O Joaquim Brinco Pum
Ao fundo da escada do adro
E ainda o Chegadinho
N’Além-da-Ponte instalado

Usavam chapa zincada
Tudo feito por seus braços
Fabricavam aguadouros
Também chamados cabaços

Ainda vinha ao mercado
Um casal de cordoeiros
Vender sogas adivais
Cabrestos e tamoeiros

Vendiam cordas diversas
E de número variado
Eram vendidas a metro
A metro bem aviado

Enfrentando uma vida dura
P’ra ganhar algum dinheiro
Vinha a Natália Pequena
E o Domingos Cordoeiro

E à volta do mercado
Trazendo burros ou machos
Aparecem vendedores
De tapetes e capachos

Junto às bombas de Shell
Com as bombas manuais
Estava o Abel da Benta
Com leitões habituais

Estaladiços cheirosos
Fumegavam estavam mornos
Vinham da rua de baixo
Directamente dos fornos

Vinham dentro de uma caixa
Toda feita de madeira
Mas com tampa protegida
Com a rede mosquiteira

Rua abaixo, rua acima
Andavam as barateiras
Com o seu carro de mão
Apregoando carteiras

Vendiam só miudezas
Linhas nastros e fitas
Também tinham balalaicas
E até Marias-Ritas

Navalhas e canivetes
Até linhas e botões
Também vendiam camisas
A troco de alguns tostões

Apareciam os gravateiros
Sempre com novos padrões
Com as gravatas expostas
À sua frente em varões

Bem usadas nesse tempo
Era o luxo de então
Que dava ao rico e ao pobre
Uma outra distinção

Havia bons vendedores
Com muita apresentação
Que percorriam as ruas
Com a sua exposição

O Joaquim Correeiro
Aparecia muitas vezes
Como o Bento e o Zé Bicho
E ainda o Raúl Lancetes

Havia um fabricante
Em Águeda foi o primeiro
Tinha até um fino gosto
Era o Joaquim Gravateiro

Em frente ao Brites das roupas
A vender o berbigão
Lá estava o Ti Camilo
Com o seu búzio na mão

Com medidas de madeira
A cinco e a dez tostões
Tudo levava para casa
Os fresquinhos berbigões

Vinha o carro do Clarindo
E também o do Abel
Vinha ainda o, Manel Gago
Com berbigões a granel

Numa carroça de burros
À Barra os iam buscar
Viajando toda a noite
Para cedo aqui chegar

Apregoavam em voz alta
"Ó povo tens o que queres"
"Olha o berbigão graúdo"
"Levem a crica mulheres"

Louça de barro vermelho
De trabalho artesanal
Também ali estava exposto
A todo o povo em Geral

Vasos, moringas, picheiras
Canecas lindas, tigelas
Ainda alguidares para a roupa
Cântaros, funis, gamelas

Havia ali lindas cântaras
E de qualidade boa
De trabalho artesanal
À entrada da Alagôa

Nessa pequena fábrica
De trabalho feito à mão
Processo rudimentares
Estavam na execução

A louça de barro preto
Em Molelos fabricada
Pela sua utilidade
Era muito procurada

Cafeteiras p’ró café
Caçoilas e assadeiras
Pecinhas decorativas
Pratos e até picheiras

Também se vendiam potes
No interior vidrados
P’ra Conservar azeitona
Eram muito procurados

Para conservar o unto
Onde os rojões guardavam
Lá vinham comprar os potes
Quando o seu porco matavam

Apertadas com um fio
Mesmo aos ombros penduradas
Andavam os vendedores
Com latas recuperadas

Apregoavam as latas
Que eram usadas do óleo
"Olha os púc’ros para a água
Olha as latas p’ró petróleo"

Apareciam vendedores
Que percorriam as feiras
Com sogas e cofinhos
Com costêlos e peneiras

As peneiras de arame
de seda ou de latão
Eram muitas vezes feitas
Na praça, na ocasião

Eles vendiam ferragens
Foicinhas, tenazes, trempes
Pregos, podões e gadanhas
E até vendiam sementes

Até mesmo o Borda d’Água
Enxadas, sachos, farpões
Machados e ratoeiras
Forquilhas e alviões

Tinham enxadas de dois bicos
Ainda ancinhos de madeira
Plainas, enchós e arame
E até rede mosquiteira

As panelas de três pernas
Eram vendidas nas feiras
Piche e rebite zincado
P’ró fabrico das bateiras

Vendia-se ráfia aos molhos
E batoques para as pipas
Para estas as torneiras
P’rós enchidos secas tripas

Estavam sertãs de ferro
Lindos tachos e panelas
Havia ainda embudes
Havia lacre e sovelas

Duas correias aos ombros
Segurando um tabuleiro
Era assim que o Rei-das-Limas
Ganhava algum dinheiro

Vendia Limas e grosas
Até mesmo limatões
E limas de cabo de aço
Para ganhar alguns tostões

Levava tudo a rir
E não deixava uma feira
Para ir vender os monos
Vindos do Tomé Feteira

Também o amola-tesouras
Com banca improvisada
Lá dava uma tocadela
Na sua gaita afinada

Fazia rodar c’os pés
Uma roda bem pesada
Que ligada por correia
O esmeril movimentava

Amolava ferramentas
Tesouras, facas esmurradas
Também compunha varetas
Quando estavam avariadas

Como a vida estava má
Para não comprar novos pratos
Quando se partia algum
Eram unidos com gatos

Os gatos eram de arame
E o mestre os concebia
Aplicados com cimento
O prato partido unia

Às vezes durava anos
Tão seguro como novo
Era assim que se poupava
Era a miséria do povo

O senhor José Fernandes
Em Águeda é o mais antigo
Anda há cinquenta anos
Trazendo o carro, consigo

E na ideia do povo
Segundo a crença que tem
Ao ver o Manuel Fernandes
É sinal que a chuva vem

Quando vinha o Augusto Estona
P’rá canalha era alegria
Com rodízios numa moca
E chapéus de fantasia

Trazia os chupa-chupas
De trabalho artesanal
Confeccionados por ele
Na terra do Ameal

Eram só feitos de açúcar
Em forminhas de papel
De papel de muitas cores
E vendidos a granel

Trazia em tabuleiros
Com cavidades furados
E tendo uma forma cónica
Eram ali enfiados

Era o regalo dos pobres
Dos pobrezinhos de antanho
A cinco e a dez tostões
Consoante o seu tamanho

Era delícia para alguns
P’ra outros era miragem
Crescendo água na boca
Quando vinham de passagem

Com caixinhas de madeira
Estavam lá engraxadores
Com frasquinhos de anilina
E escovas de duas cores

Tratavam bem o cliente
E para sua protecção
Colocavam duas palas
Geralmente de cartão

Era vê-los alinhados
Todos com o mesmo fim
Como António da Graça
Jaime Boche e Serafim

Estava ali o Edgar
E até o Mário Lapão
E mesmo o Santarém
Todos a ganhar o pão

Trabalhava para os bombeiros
O mais antigo afinal
De apelido conhecido
O amigo Natural

Todos eles se apuravam
Havia arte e jeitinho
Com pano de polimento
Até davam estalinho

Vinham alguns cantores do Porto
Com violas mas sem graça
Cantavam coisas horríveis
Anunciavam desgraça

Juntava-se o povo à volta
Com grande curiosidade
E compravam os panfletos
Com a triste novidade

Aproveitavam notícias
De crimes e de desgraça
Para ganharem seu pão
Andavam de praça em praça

Vendiam-se até remédios
P’ra curar qualquer doença
E o povo até comprava
Era assim a sua crença

Munidos de altifalantes
Na mira de alguma sobra
Com a sua propaganda
Vendiam Banha-da-cobra

Era remédio p’ró fígado
P’rá asma, p’rá rouquidão
Para a tensão elevada
E até para o coração

Fazia bem à bronquite
E até ao reumatismo
Tirava a febre e as dores
E curava o paludismo

Fazia dar vista ao cego
Punha a falar o mudo
Remédio milagroso
Era cura para tudo

"Dois pr’aqui mais dois pr’ali
Há poucos, vai acabar
P’ra facilitar a venda
Ponham a nota no ar"

"Não os quero maçar mais
Não me quero tornar chato
Evitem de levar um
Porque aos três é mais barato"

"Para alguém desprevenido
Fica a minha direcção
Porque envio à cobrança
Com toda a satisfação"

Havia lá três quiosques
Que tanta graça metiam
Mais perto da PVT
E muita coisa vendiam

Dois deles eram local
Onde fruta se vendia
Mais o mais antigo ali
Era o da velhinha Iria

O quiosque da Floripes
Com frutinha de primeira
Tinha pencas penduradas
De bananas da Madeira

Vendia pencas e nabos
Louro e salsa também
E a Elisiária pequena
Ajudava a sua mãe

Vendia cabeças d’ alho
Ramos de salsa e noz
Até pedaços de abóbora
Para fazer as filhós

O quiosque do Raúl Conde
Com revistas e jornais
Vendia até lotaria
Mesmo para intelectuais

Vendia a revista "Stadium"
Se a memória me não falha
Vendia mesmo o "Mosquito"
Para entreter a canalha

Vendia lindas revistas
E jornais de toda a gama
E o "Mundo de Aventuras"
Tão popular e com fama

Vendia o "Rimtimtim"
Para a criançada animar
Ainda o "Flecha Negra"
E o "Condor Popular"

Até tinha rebuçados
De uma grande colecção
Com todos os jogadores
Da primeira divisão

Enchendo uma caderneta
Com jogadores um-por-um
Lá recebia de prémio
Uma bola de "Cautchum"

Havia alguns viveiristas
Que serviam toda a gente
Como João Canas, Talhadas
Ainda o Manuel Vicente

Com árvores de qualidade
Com o seu trabalho e zelo
Vendiam com qualidade
De boas castas, bacelo

O amigo João Canas
Com muita dedicação
Levava muitos atados
Com destino à estação

Era no carro das vacas
O trabalho efectuado
E quando chegava ali
Ia tudo despachado

O parente Quim Talhadas
Foi um grande viveirista
Era muito persistente
Sempre com progresso à vista

Era muito habilidoso
P’ra conseguir seus intentos
Preparava boas árvores
Com diversos cruzamentos

Trabalhava em grande escala
Com muita dedicação
E muitos dos seus produtos
Eram para exportação

O grande homem da trompete
O amigo Manel Vicente
Tinha sempre bom bacelo
Que agradava a toda a gente

Estes homens de valor
Sem o pensar concerteza
Enriqueceram a terra
Deram vida à natureza

Deram-nos oxigénio
A base da nossa vida
E até aos passarinhos
Proporcionaram guarida

Apareciam correeiros
Com albardas e fivelas
Retrancas cilhas e rédeas
E cintos de formas belas

Também vendiam estribos
Que enfeitavam montadas
Vendiam lindos arreios
E bonitas cabeçadas

Era a toilette dos burros
E que tanto os enfeitava
Dava vida a algumas burras
Como a Balcória do Fava

Vinha gente lá da serra
Com ovos e criação
Com trigo aveia e milho
Grão de bico e feijão

Os ovos e cereais
Em canastras transportados
Destinavam-se a depósito
Onde eram cambiados

Eram vendidos no Afonso
E no César merceeiro
E até mesmo no Gil
Na troca de algum dinheiro

Os ovos eram embalados
Com cuidado especial
E em caixas de madeira
Seguiam para a capital

E percorrendo as ruas
Sempre no seu vem-vai
Com calma na bicicleta
Aparece o amigo Estai

Traz os garrafões de vinho
Em cima do guiador
Para clientes muito amigos
A quem apanhou amor

E lá vem do Ameal
Para ele é um prazer
Traz vinho de qualidade
Para o cliente beber

Também vinham canastreiros
Com canastras e cestinhas
Que eram feitas de castanho
Retalhado às tirinhas

Tinham muita utilidade
Mesmo p’rás pessoas nobres
E até servia de berço
Para as crianças mais pobres

Para os lados do São Pedro
Meu parente verdadeiro
Havia um grande artista
Adriano Canastreiro

António Alves da Costa
Foi um grande tanoeiro
Fazia todas as feiras
E também foi taberneiro

Vendia baldes canecos
Picheiras e escudelas
Lindas pipas, pás de forno
Até dornas e gamelas

Vendia colunas para vasos
Lindos mochos e cadeiras
Armários e mosqueiros
Malas e prateleiras

Vendia também masseiras
Peneiras bem acabadas
Até bancos de criança
E cadeiras articuladas.

E o Manel das Vacas
Com o seu pastor alemão
Aparecia muitas vezes
Fazendo exibição

Era o cão mais lindo de Águeda
Disso estava consciente
Quando parava na rua
Encantava toda a gente

Era do Doutor Amílcar
De quem era servidor
E o Manel que era aprumado
Era o seu zelador

Apareciam vendedores
De pequenos camarões
Eram vendidos à malga
Apenas por dez tostões

Com cebola com pimenta
Com azeite temperados
Regadinhos com um marquês
Ficávamos consolados

Aparecia o amigo Cheta
O albino e o Bibi
O Pantero, o Albaninho
E muitos mais que eu vi

Até o Mário de Barrô
Que por norma não se atrasa
Se não lhe davam esmola
Partia logo na brasa

Acompanhado de um pau
Muitas terras percorria
Andando sempre descalço
Numa grande correria

O Barco-ao-Fundo também
De Paredes oriundo
Quando este nome chamavam
Era logo o fim do mundo

Até o amigo Machado
Com cara de refilão
Vinha vender sabonetes
Era a sua distracção

O "Sabonete das Taipas"
Bonito e bem cheiroso
Era para o amigo Machado
Um negócio bem rendoso

Tudo tinha medo dele
Por matar um companheiro
Mas para mim foi sempre amigo
Até me dava dinheiro

Também o Chico Tinhoso
Com chapéu arredondado
Dormia uma soneca
Lá nos bancos do mercado

Quando passava a Anselma
E alguém "Pum" lhe dizia
Era logo o fim-do-mundo
E toda a gente ofendia

Um dia foi a Lisboa
E de surpresa ouviu "Pum"
Disse "são sacanas de Águeda
Lisboa não tem nenhum"

O nosso amigo Júlio
Sem ordenado nem rendas
P’ra ganhar a sua vida
Acarretava encomendas

Trabalhava sem parar
Ao Domingo e à semana
Mas bebia o seu marquês
Na tasca da Ti Joana

Ele gostava do Faísca
Na loja do Augusto Zica
E da sande habitual
Que tão barato nos fica

Quando ia ao Piolho
A ver os filmes de pé
Bebia no intervalo
Refresco de capilé

Até o amigo Teófilo
Não deixava os mercados
Pedindo a sua esmola
Com os pés muito inchados

Fora do tempo defeso
Em certas ocasiões
Aparecem vendedores
De robacos e pimpões

Traziam até lindas carpas
Enguias a rabear
Vinham vivas da pateira
Para o cliente comprar

Vinham alguns vendedores
Do rego e Óis da Ribeira
Uns vinham de bicicleta
Outros vinham de bateira

As vendedeiras da louça
Que vinham de Verdemilho
Vendiam peças bonitas
Sem defeito e com brilho

Vinham na véspera p’ra Águeda
Onde tinham armazém
Na Adelaide Coutinho
Onde dormiam também

Do armazém do Barril
A louça era acarretada
Ia em carros de mão próprios
E bem acondicionada

Louça preta era da Rita
A vermelha era d’ Aurora
As duas eram amigas
Foram pela vida fora

Vinham cestos de vindima
Dos lados d’ Óis da Ribeira
Eram só feitos de vime
E de vime de primeira

Destinavam-se à vindima
E à apanha da azeitona
Também chamados poceiros
Consoante a sua zona

Alguns dos seus fabricantes
Quando a campanha começa
Em casa dos lavradores
Faziam trabalho à peça

Vendiam-se até esteiras
Eram em Perrães fabricadas
Tinham muita utilidade
Eram muito procuradas

Nesse tempo as oliveiras
Tinham muita produção
E na apanha da azeitona
Eram espalhadas no chão

Até nalgumas casas
Com precárias condições
P’ra fazer compartimentos
Serviam p’ra vedações

Fabricantes de Perrães
Com habilidade sua
Fabricavam as esteiras
De bônho e atabua

Ao Domingo vinha à praça
O Resende de Óis da Ribeira
P’ra levar mercearia
Transportada de bateira

Seu patrão era o Martins
Que era muito conhecido
Como bom comerciante
Era assim abastecido

P’ra fazer a sua carga
Vinha logo de manhã
E a carga era feita
Junto à Auzenda Alemã

A Auzenda tinha uma tasca
Junto ao João Latoeiro
Tinha sempre boa pinga
E à porta um fogareiro

Tinha lá cachucho frito
Também havia coiratos
Havia enguias fritas
E preparava bons pratos

A sardinha de escabeche
Era este o seu pitéu
Na taberna que mais tarde
Foi da Glória do Xaréu

Mesmo junto ao André
O mercado da sardinha
Era coberto de chapa
E que linda graça tinha

Duas bancas paralelas
Numa base cimentada
Era ali nesse local
Que a venda se efectuava

A vender bonito peixe
E de qualidade fina
Estava a Palmira Morta
E também a Albertina

Com sardinha e com petinga
Tão bonita e tão boa
Estava a Eugénia Serrana
E a Elvira Sacristoa

Também estava o António Gago
E até a Preciosa
E a Maria da Luz
Com pescaria vistosa

Vendiam linda sardinha
Até chicharro de par
Petinga e navalhinha
E carapau a saltar

Eram rabos de sardinha
Nesse tempo bem salgada
Até sardinha amarela
Devidamente curada

A sardinha amarela
Tão gostosa e procurada
Havia quem lhe chamasse
Sardinha remelada

O António Pinheiro
E o Gaitas de Anadia
Qualquer deles era forte
E o mercado abastecia

Vinham de camioneta
Em correrias até
Às vezes de Matosinhos
De Peniche ou Nazaré

A vender o peixe grosso
Tão fresquinho a saltar
Estava ali o Guilherme
E a Maria Gaspar

Também a Ângela do Vale
Ali estava de manhã
Para fazer o mercado
Com a sua sócia irmã

O peixe vinha de Lisboa
Muito bem acondicionado
Vinha em caixas de madeira
Por comboio despachado

Com carro de duas rodas
Todos dias em geral
Ia o Guilherme à estação
Com a Maria do Vale

Traziam o fino peixe
Fresquinho quase a saltar
Com destino ao mercado
Para a venda efectuar

Linguado, e cachucho
Safio cherne e corvina
Raia, garoupa e pargo
E pescada da mais fina

Havia uma sardinheira
Assequins abastecia
Com a canastra à cabeça
Todo o lugar percorria

Como não sabia ler
Para saber a quem fia
Por sinais feitos no livro
Sabia quem lhe devia

A família ainda tem
Um livro com os risquinhos
Daquela a quem chamavam
Maria dos sinaizinhos

Vinha hortaliça de Aradas
E até de Verdemilho
Ainda de São Bernardo
Toda fresquinha com brilho

Vinha o Francisco José
E o António Pessegueiro
Ana Rosa e Zé Coelho
Com seu produto caseiro

Formavam-se enormes rimas
De bons nabos no mercado
Eram vendidos à dúzia
Para o povo interessado

Vendiam couves e grelos
E linda couve-flor
Que lindas pencas às vezes
E brócolos que eram um amor

Vinham em carros de bois
Da origem p’rós mercados
E é um caso curioso
Como eram transportados

O transporte era de noite
E o gado tão treinado
Vinha mesmo sem guião
Direitinho ao mercado

Num carro com a lanterna
P’ra presença assinalar
Vinha o dono a dormir
Tranquilo a descansar

Havia ali três tabernas
Com pinguinha de primeira
Era tirado da pipa
Mas directo p’rá picheira

Havia o copo pequeno
E também o de marquês
E até mesmo o penalty
Se bebia muita vez

O povo matava-o-bicho
Mesmo logo de manhã
Na tasquinha do Belmiro
Ou da Auzenda Alemã

Até Joana dos carros
Ali frente ao mercado
Tinha sempre bons petiscos
E vinho de bom agrado

O biquinho mais esquisito
Para ir mais longe arrisca
E vai mesmo ao Augusto Zica
Para beber um faísca

Quando Augusto se enervava
Ou havia confusão
O faísca da pipinha
Só saia por ração

Perto do Carlos Natal
Estava a loja do Afonso
Mas também do outro lado
O Pedro e o Ildefonso

Onde está o Sotto Mayor
O Pedro se divertia
Consertando bicicletas
Junto da tipografia

O tipógrafo Ildefonso
Trabalhava muito bem
Imprimia bons trabalhos
E até o "Águeda" também

Por cima do amigo Pedro
No andar número um
'Stava Bernardino Santos
Que era o Padre Balacum

Com depósito de milho
'stava ali o grémio também
Sendo seu administrador
O senhor Gomes de Serém

Vendiam-se até chapéus
Substituindo cartolas
E também belos bonés
E até boinas espanholas

Sachadeiras desse tempo
Usavam chapéus de palha
Uns eram de aba larga
E outros de fina palha

Os trabalhadores do campo
Todos eles em geral
Usavam estes chapéus
No seu trabalho rural

Manuel Alves Pereira
No tempo da minha infância
Fabricava bons chapéus
Com qualidade e elegância

Tinha na rua de cima
Um lindo estabelecimento
E ali os fabricava
Num outro compartimento

Quando ia para as feira
Que grande presença mete
Por fazer o seu transporte
Numa elegante Charrette

Era um carro elegante
E de animal tracção
Puxado por um cavalo
De toda a estimação

Ia fazer a Palhaça
A Moita e Aguada
Como Oliveira do Bairro
Sempre de linda montada

Rosalina Marques Maia
Há setenta anos idos
Já vendia os seus tremoços
Bonitos e bem curtidos

A sua filha Maria
Para o negócio começar
Pediu quatro tostões
Para os tremoços comprar

Os primeiros que vendeu
Não foi mal p’ra começar
Ganhou dois mil e quinhentos
Para uma saia comprar

A ti Maria dos tremoços
Mulher do Abílio Canas
Com os seus setenta anos
Bem do tempo das tricanas

Vestidinha a rigor
Com a canastra na mão
"Quem quer comprar tremoços"
Era assim o seu pregão

Com os seus setenta anos
Com a mesma animação
Vai p’rá a praça com tremoços
Com o seu carro-de-mão

Depois de demolhados
Os tremoços são cozidos
E demoram quatro dias
Para ficarem curtidos

Por não terem poluição
Os ribeiros antigamente
Eram ali postos em sacos
Bem expostos à corrente

Os sacos eram escondidos
Com uma pedra a assinalar
mas quando a malta os topava
Era um tal aviar

De Assequins ao Ribeirinho
Muitos sacos se encontrava
Naquela água tão pura
Que a sede nos matava

Havia uma tremoceira
Da terra do Ameal
Por sinal era ceguinha
Da quinta do morangal

Assadeiras de castanhas
Junto ao passeio alinhadas
Tinham-nas quentes e boas
Vistosas e bem assadas

Metidas numa assadeira
Sempre com sal bem mexidas
Embrulhadas em jornal
Eram à dúzia vendidas

Assou Maria do Carmo
E também a Cesaltina
A Esmeralda Barbosa
E Matari Josefina

Ainda Assunção do Arsénio
E a Maria Perdida
E quantas vezes à chuva
Para ganharem a vida

Muitas tabernas havia
Que à vila davam vida
Onde todos encontravam
Pinga boa e comida

Havia o Abel da Benta
Com vinho que era um amor
E até o João Moleiro
Chamado Carregador

Na tasca do Abel da Benta
Onde a carreira parava
Juntava-se lá muita gente
A gente que embarcava

No tecto da camioneta
À volta resguardada
Seguia toda a bagagem
Com uma corda amarrada

Os carros dos Azeitonas
Sempre limpos e afinados
De Aveiro ao Caramulo
Andavam sempre apinhados

Com a crise do petróleo
Em pleno tempo de guerra
Andavam a gasogénio
Mas lá subiam a serra

Quando o gás escasseava
Mas que grande frete tinha
O chauffeur parava o carro
Para dar à ventoinha

Uma fornalha redonda
Segura à parte de trás
Levava carvão a arder
Para conseguir o gás

Uma meia hora antes
Da camioneta partir
O carvão, estava a arder
Para o gás produzir

Era o senhor Olivette
Afamado cobrador
Toda a gente o respeitava
Por ser muito zelador

Com a falta da borracha
E mesmo das câmaras de ar
Enchiam pneus de palha
Para poderem andar

O bairro da Venda Nova
Estava bem apetrechado
Com a loja da serrana
E do Fausto Entrevado

Havia o "Cá-te-espero"
Junto ao São Sebastião
Com grande ramo de louro
Tinha muita agitação

Também a tasca do Hugo
Mesmo junto à estação
Aviava os clientes
À espera da embarcação

O vinho era afamado
Não havia coisa igual
Porque tinha grande mestre
Senhor António Pinhal

Em frente ao hospital
Onde está o dispensário
Havia uma taberna
Que era do Elisiário

Vendia lá bons leitões
E ao Domingo em geral
Tinha boa clientela
De visita ao hospital

A Zínia perto da fonte
Num ambiente caseiro
Servia lá bons petiscos
E Chouriças do fumeiro

Fazia também a praça
Com bons porcos que matava
E até Glória Macaca
Era a sua empregada

No número oitenta e oito
Com a vida no seu final
Saíram-lhe oitenta contos
Na lotaria nacional

A loja do carregador
Junto à farmácia Amaral
Servia lá os moleiros
Que vinham do Ameal

As argolas nas paredes
Mesmo em frente à sua venda
Eram para prender os burros
Carregados de moenda

Passava lá uma burra
Que fazia contestação
Se não lhe dessem umas sopas
Feitas de vinho e de pão

A burra de que vos falo
Que só assim se acalmava
Era uma burra afamada
Era a Balcória do Fava

Havia ainda o Sousa
Havia o Guilherme Guerra
E também o tanoeiro
E o amigo Zé Serra

Vinham de Castelo Branco
Em cavalos bem tratados
Com palha em cestos metidos
Queijos da serra curados

Queijeiros vindos da serra
Com dificuldades tantas
Só traziam pr’ agasalho
Apenas algumas mantas

Eles vinham de muito longe
Andando de terra em terra
Demorando muitos dias
Até voltarem à serra

De Fornos e Celorico
De lá vinham outros também
Com queijinhos amanteigados
Que fama tinham também

O senhor Carlos Bragança
E Manel Paixão, os dois
Vinham vender couve ao centro
Com os seus carros de bois

Também o João Serrano
Vindo de Aveiro, Aradas
Trazia no seu cavalo
Onde eram transportadas

Um dia ele teve azar
E o cavalo assustado
Caiu numa ribanceira
Ficou todo espatifado

O cavalo e o Serrano
Ficaram os dois feridos
Mas em breve recuperaram
Continuando os dois unidos

Vende em Águeda há meio século
Ainda hoje aqui vem
Com uma clientela antiga
Ainda vende muito bem

A Albertina Tavares
Ao mercado de Águeda afecta
Vinha com o seu marido
Os dois de bicicleta

Com uma grande carga atrás
Quando a couve transportava
Ao sair da bicicleta
Ela até empinava

De Pinheiro da Bemposta
P’ra evitar a bicicleta
Mais tarde lá resolveram
A vir de camioneta

Vinha na dos Oliveiras
Era fácil muito mais
E até lá pernoitavam
Send’ amigos pessoais

Homens da marionetas
De bonecos bem espertos
Também vinham ao mercado
Com os chamados Robertos

Bonecos manipulados
Dentro duma vedação
Encantavam os pequenos
Dando-lhes satisfação

Ao acabar o trabalho
Com graça e animação
Faziam um peditório
Com uma boina na mão

Apareciam barracas
Com os jogos de panelas
Eram lindas de alumínio
E tudo gostava delas

Traziam jogos de tachos
De cafeteiras também
E calhavam por sorteio
A quem acertasse bem

Toda a gente as pretendia
E por gostar tanto delas
Era muito concorrida
A barraca das panelas

Tinham lá mesmo ao meio
Três roletas penduradas
E quando elas giravam
Eram séries sorteadas

Ali à volta das barracas
Juntavam-se multidões
Comprando a sua série
Apenas por dez tostões

Com a ideia das panelas
Um dia eu me tentei
E apenas com um bilhete
No número exacto acertei

E uma pessoa rica
Convenceu a minha mãe
A vender as panelinhas
E que lhas pagava bem

A minha mãe lá cedeu
Depois de um pouco pensar
Dava mais jeito o dinheiro
Para o pão nos comprar

Fazia venda na praça
A moleira Anunciação
Com Farinha de milho, trigo
E mistura para o pão

Quando chegava ao Botaréu
Com os burros carregados
Numa pedra junto ao rio
Eram ali amarrados

Os burros que trazia
Como tinham de esperar
Apareciam voluntários
Para os levar a pastar

Eles grandes malandrecos
Em vez de os por a pastar
Andavam toda a manhã
Com eles a cavalgar

Mesmo junto ao Botaréu
Era aí o picadeiro
Montava o Jaime Marques
E o Zé Júlio Ribeiro

Cavalgava o Quim Moina
E o Firmino Gaspar
Depois vinha o João Júlio
Todos queriam montar

O Elói era o mais novo
Na arte de cavalgar
Um dia montou um burro
Mas foi um dia de azar

Quando se sentou na albarda
Armado em sabichão
O burro deu dois pinotes
E pregou com ele no chão

Até mesmo o João Fuso
Com seu ar de malandrão
Montava os pobres burros
Era a sua distracção

O José Júlio Ribeiro
Com o Fuso à batatada
Atingido com uma pedra
Ficou de testa rachada

Parece que ainda se nota
A marca no deputado
Porque o Jogo aziago
Ficou sempre assinalado

E os pobres do dois burros
Sem ter tempo p’ra pastar
Voltavam à sua dona
Sem ponta d’erva tragar

A velha Anunciação
Que a cena desconhecia
Com palavras de ternura
Ainda lhes agradecia

A tia Anunciação
Era uma linda figura
Com um lenço na cabeça
E um pano à cintura

Trazia uma carteira
Em forma de coração
Com pano de muitas cores
E linda apresentação

Ali metia os trocados
Da venda ou da maquia
Andando sempre com ela
No avental todo o dia

Havia tendas da roupa
Em frente ao Carlos Natal
Vendiam lá cobertores
E toda a roupa em geral

Vendiam pano a metro
E riscado da tabela
Com a cor verde e vermelha
Bem destacada na aureola

Tinham lá xailes grossos
E mais finos de marino
Para as senhoras mais ricas
P'ra um aspecto mais fino

Vendiam cuecas, ceroulas
Corpetes e aventais
Tudo isto executado
Em trabalhos manuais

As mulheres da roupa feita
Num trabalho feito à mão
Percorriam os mercados
Com a sua confecção

Lá iam de bicicleta
Ao sol, à chuva e ao vento
Com o fardo no suporte
Era assim o seu tormento

Percorria muitas feiras
A Ludovina Balreira
Com a Clara de Paredes
E a Maria Pereira

Também a Dália Natal
Ainda sem armazém
Andava com roupas feitas
De feira em feira também

A ti Glória Chula
De costura percebia
Andava de casa em casa
A fazer trabalho ao dia

Tinha fama o seu trabalho
Toda a gente a procurava
Era muito despachada
O seu trabalho agradava

Nos serões e horas vagas
Às vezes noites inteiras
Preparava mais trabalhos
Para levar para as feiras

Levava bicicleta
Com o seu fardo atrás
Às vezes com trinta quilos
E até por estradas más

Mais tarde veio o Júlio
Que transporte efectuava
Com camioneta de carga
E as feirantes levava

Seguiam na camioneta
Nos seus bancos laterais
Iam sempre aos solavancos
Com barulhos infernais

E a ti Glória Chula
Por não haver infantário
Levava o seu filho Egberto
Tinha isto por fadário

Ele ia numa canastra
Que era o berço dos pobres
E quantos nelas dormiam
Com sentimentos tão nobres

O rapaz da minha rua
Que hoje vive tão bem
Já comeu o pão amargo
Que não fez mal a ninguém

O Egberto ia no carro
Pelas tendeiras guardado
Era o menino das bruxas
E por todos adorado

Havia fruta na praça
Mas fruta da ocasião
Não havia frigoríficos
P'rá a sua conservação

Vendia ali a Matilde
A Amélia e a Margarida
Eram mulheres agitadas
No seu princípio de vida

O Zé e a Maria Augusta
Também vinham ao mercado
Num carro de duas rodas
Por um burrinho puxado

Ao fazer a sua venda
E a praça estar acabada
Regressavam a Arrancada
Com a venda efectuada

Apareceu a Matilde
Na praça um pouco mais tarde
Com diversas novidades
Importadas do Algarve

Vinham de Luz de Tavira
De Boliqueime e de Olhão
Também d’Armação de Pêra
Que era boa região

A Isaura da Bicha-Moira
Era mulher muito calma
Foi sempre de boas contas
Que Deus lhe fale na alma

O ti João das batatas
Marido e bom companheiro
Tinha também seu negócio
E ganhava algum dinheiro

Negociava batatas
Até milho e feijões
Percorria muitas feiras
Para vender os leitões

Também vinha de Paredes
Banana que era um amor
Vendida ali no mercado
Mas pelo João Feitor

Este feitor foi meu sócio
E a nossa separação
Teve origem na desgraça
Da morte de seu irmão

Custou cento e vinte escudos
O nosso carro de mão
Para servir de transporte
Foi primeira aquisição

Belarmina a mais antiga
Eu dela me lembro bem
Tinha já bastante idade
Negociava também

Vendia no caramulo
Sempre artigo do mais fino
Mesmo junto ao fontanário
Bem perto do Flausino

Ao chegar a camioneta
Sem ter loja nem ter tenda
Era no meio da rua
Que fazia a sua venda

Vendia p'ra muitas casas
Até mesmo refeitórios
Mas a sua maior venda
Era para os sanatórios

Havia uma frutaria
Que abasteci muita vezes
Era do António Chibeiro
E da companheira Inês

A sua loja de venda
Abria bastante cedo
Era perto do Sabino
Rua Ferraz de Macedo

Tiveram ainda uma outra
Em frente à tesouraria
Que foi cedida ao Euclides
Pr'á sua papelaria

Também a Lurdes da fruta
Junto ao Ernesto Ruela
Tinha sempre boa fruta
Fruta vistosa e bela

De fronte a ela a ti Márcia
Que a falar não gagueja
Vendia ali lenha à dúzia
E molhinhos de carqueja

Também tinha bons ovos
Havia bom cereal
Na lojinha instalada
Onde está a Foto Central

Pr'a comer com bom conforto
Carne, peixe ou coisas mais
Só numa casa afamada
Era a pensão do Morais

Também tinha mercearia
E no dia do mercado
Tinha muito movimento
Mas era tudo aviado

O açúcar e o arroz
Na véspera era ensacado
Em cartuchos de papel
Era tudo bem pesado

Vendia sabão à barra
Açúcar, arroz e massa
Também lá vendia velas
E até sabão de potassa

À dúzia vendia ovos
Fresquinhos, vindos da serra
Vendia o arroz corrente
E o gostoso arroz da terra

O café tinha um cheirinho
Era uma consolação
E seguia para o cliente
Moído na ocasião

O azeite tão gostoso
Para a sua clientela
Lá saía de uma máquina
Movida por manivela

Havia uma pensão
Mesmo à entrada da Cancela
Era muito concorrida
Tinha muita clientela

Era a Pensão Barata
Onde está o Ribeirinho
Seus clientes era Sargentos
Onde encontravam carinho

Já lá vão quarenta anos
'Inda lembro o seu labor
E até das pedras lindas
Que tinha no corredor

Também a Pensão Matilde
Com muita apresentação
Aviava muita gente
À hora da refeição

Tinha Sargentos diários
Que andavam a estudar
À procura de um galão
Para a vida melhorar

Anexo tinha taberna
Com petiscos sempre à mão
E uma seira de figos
Sempre comidos com pão

Tinha ainda bons tremoços
E amendoins torrados
Havia iscas de fígado
E chicharro aos bocados

Até o cachucho frito
Que era muito apreciado
Talvez por ser mais barato
Era muito procurado

Havia outra pensão
Que sempre bem nos servia
Era do Augusto Zica
E da esposa , senhora Gia

Tinha cozinha de luxo
Com grande fogão de lenha
Servia lá muita gente
Fosse da terra ou estranha

De fronte a Casa Santos
Com toda a sua grandeza
Era o café mais chique
Com muito luxo e beleza

Tinha clientela fina
Com gente com distinção
Onde comia pastéis
E tomavam o seu galão

Tinha café afamado
Nas mesas açucareiro
Os pastéis à meia dúzia
Na troca de algum dinheiro

O café feito e coado
Na máquina era metido
Com fogareiro a petróleo
Estava sempre aquecido

Ao fundo tinha um salão
Onde a noite iam passar
Os meninos da elite
Que gostavam do bilhar

Tinha sempre boa pinga
De se tirar o chapéu
Com a sua marca própria
Eram os Vinhos Botaréu

Tinha mercearia fina
E uma pastelaria
Com pastéis do seu fabrico
Que muita gente atendia

No Natal o Bolo Rei
Com tal movimentação
A gaveta de tão cheia
Caía a nota pr'ó chão

Tinha fama o pão-de-ló
Aveludado e mimoso
Era muito apreciado
Por ser bonito e gostoso

Em cima tinha pensão
Com serviço de primeira
E um salão muito chique
Decorado a madeira

Havia móveis na sala
De uma arte invulgar
Com madeira trabalhada
E espelhos a rematar

Na cozinha que era grande
Com luxo e bem montada
Era com grande limpeza
Comida confeccionada

Em cima tinha os quartos
Muito limpos, bem montados
E por Sargentos estudante
Eram muitos ocupados

Até muito viajante
Por ter boa recepção
Quando chegavam a Águeda
Procuravam esta pensão

De fronte à velha praça
Onde muito bem se trinca
Havia uma pensão
Que era da Maria Brinca

Tinha cozinha esmerada
Fazia boa comida
Muita gente a procurava
Pela fama conseguida

Alugava alguns quartos
Era residencial
E todos ali dormiam
Ninguém se sentia mal

Junto tinha uma taberna
Para matar a sequeira
A quem bebia o seu tinto
Servido de uma picheira

Havia ali bons petiscos
Sempre quente a sair
E pipas encanteiradas
Para pinguinha servir

Todas as tabernas tinha
As medidas aferidas
Pr'a fazer a medição
Caso fossem exigidas

O senhor Júlio Nápoles
Pr' aviar não tinha jeito
Embora de poucas falas
Impunha muito respeito

Era o proprietário
Da casa com tanta fama
E que hoje tem por nome
A Pensão Vasco da Gama

Junto aos Paços do Concelho
A Pensão Comercial
Servia ali os Sargentos
E todo o povo em geral

E na loja do Barão
Muita coisa se vendia
Com enorme movimento
A vender mercearia

Tinha quase sempre à porta
Uma coisa muito gira
Era o polvo em cestinhos
Importado de Tavira

Era uma casa diferente
Tinha muitas coisas mais
E era especializada
Em solas e cabedais

Vendia muitos artigos
Em certas ocasiões
Até ali se vendia
O chumbo para caixões

Tinha na sua gerência
Pessoas conceituadas
E operações bancárias
Eram ali efectuadas

Máquinas registadoras
Com muita apresentação
Tinha uma a Casa Santos
E tinha outra o Barão

Eram peças de museu
Lindas, bem trabalhadas
Movidas por manivela
Para ser movimentadas

E num grande mostrador
A conta apresentavam
Fazendo barulho a abrir
As campainhas tocavam

O Eugénio Regedor
Tinha uma mercearia
Vendia lá bom café
Que no momento moía

A moagem manual
Era uma coisa bela
Numa máquina gigante
Movida por manivela

Ele vendia sapatilhas
Anilina, até graxa
Bonecas de celulóide
E sapatos de borracha

Havia bons armazéns
De mercearia e afins
Como o armazém da fábrica
Na estrada de Assequins

Armazém do Encarnação
E muitos mais nós tivemos
Foi o Antero Varanda
E também o João Lemos

A casa do Simões Dias
Era um armazém completo
Sendo bem orientado
Pelo empregado Anacleto

O Grémio tinha armazém
Á entrada da cancela
Onde tinha os adubos
Para a sua clientela

Quando aviavam os clientes
Empregados a servi-los
Carregavam aos seus ombros
Grandes sacos de cem quilos

O armazém do milho
Deste belo cereal
Era perto do barril
Junto ao Carlos Natal

Na casa da baronesa
Com bastante animação
Havia um armazém
Que pertencia ao Barão

Com a sua hanomag
Fazia a distribuição
Percorrendo as aldeias
Com calma, sem confusão

Mesmo na Rua de Cima
Um bom armazém tivemos
Tinha artigos variados
Era o do João Lemos

O amigo Manuel
Tinha agitado a missão
Andava com o senhor Lemos
Sempre na distribuição

Nesse tempo as bolachas
Eram em latas metidas
Vinham mesmo a granel
E assim eram vendidas

Havia rimas enormes
Dentro do seu armazém
De diversas qualidades
Que se vendiam tão bem

O armazém do Simões Dias
Vendia muitos artigos
Na rua Ferraz de Macedo
Há sessenta anos idos

Senhor António Vieira
O primeiro encarregado
Era um homem muito activo
Trabalhador dedicado

Depois veio o senhor Artur
Ao trabalho muito afecto
Que mais tarde deu lugar
Ao senhor Anacleto

Nesse tempo os adubos
Para serem transportados
Eram em carros de cavalos
Possantes e bem tratados

Por estarem ultrapassados
E para mais tonelagem
Acabaram com os cavalos
Compraram um Volkswagen

Mais tarde o amigo Artur
Um outro carro conduz
Com um furgão mais robusto
De marca Ford Taunus

Como agente da CUF
Era o mais forte armazém
Vendia muitos adubos
E revendia também

Os sacos eram pesados
E nessa missão amarga
O Manuel Jeitosinho
Fazia sempre a descarga

Só por um litro de vinho
Um dia uma aposta fez
Carregar duzentos quilos
Apenas, só de uma vez

Conseguiu ganhar a aposta
Esse homem que era valente
Que por ganhar a garrafa
Ficara todo contente

O lindo Café Jardim
Com o pátio sevilhano
Vendia boa cerveja
Em todos os meses do ano

O senhor Álvaro Lima
Era ali encarregado
E como era brioso
Trazia tudo esmerado

No andar número um
Com a sala de bilhar
Juntava lá a mocidade
À espera para jogar

No pátio sevilhano
Às vezes fados havia
Ou até ilusionismo
Que o povo divertia

Andava um homem na rua
Para ele era um regalo
Apregoando em voz alta
Olha o remédio pr'ó calo

Geralmente andava a pé
O homem de que vos falo
Com o seu forte pregão
Também dizia "é pr'ó calo!"

Vinha gente da torreira
Pr'a vender as camarinhas
Transportadas em posseiros
E vendidas às cestinhas

E com cestos muito grandes
Mulheres com muita graça
Vinham vender as regueifas
Andando à volta da praça

Vendiam mesmo na rua
E até davam a prova
Dessas regueifas tão boas
De Albergaria-a-Nova

Andavam até mercadores
De peles de coelho e lã
Apareciam ao Domingo
Geralmente de manhã

Compravam peles de coelho
Ferro velho, até sarro
Andavam de bicicleta
Porque poucos tinham carro

As velharias e a lã
Eram ao quilo pesadas
Numa balança de mola
Onde eram penduradas

De seu nome dinamómetros
Tão fáceis de transportar
Tinham uma grande mola
Para o peso controlar

Onde está o João Latoeiro
Que consolador cheirinho
Da broa que ali vendia
A Glória do Casaínho

P'ra fazer as suas compras
Por não saber escrever
Apontava com risquinhos
Quem lhe ficava a dever

E ninguém a enganava
Nas continhas que fazia
Mesmo sem a tabuada
A fazê-las se entendia

Ela vendia farinha
Mesmo em pequenas porções
E até gostosas padas
Apenas por dois tostões

Um dia o amigo Burrinha
Actuando um pouco à toa
Foi a loja da ti Glória
Para lhe pesar a broa

Disse logo não ter peso
E com instinto do mal
Envolveu-a num processo
E levou-a a tribunal

Foi no tribunal do porto
Toda a broa conferida
Como tinha peso a mais
Ela foi absolvida

Ficou mal o funcionário
Amante da escravidão
Que às vezes aos pontapés
Espalhava tudo no chão

Se alguém não tinha senha
Às vezes por esquecimento
Era logo tudo preso
E levado no momento

Um dia o pobre Foguete
Achou dez mil reis no chão
Foi obrigado a entregá-los
Ameaçado de prisão

Passava um senhor na praça
Que metia aflição
Com a cabeça abaixada
E os olhos postos no chão

Era o senhor Luís Teosa
Homem rico e de bens
Que andava há cinco anos
A procurar dois vinténs

Tinha perdido a moeda
Ali mesmo no mercado
E na fé de os encontrar
Andava sempre abaixado

Aos domingos de canastra
De açafate ou posseiro
Vinha gente lá da serra
Ocupando o dia inteiro

Era novo e bem me lembro
Há tantos anos atrás
Só trazia dez escudos
A tia Rosa do Braz

Levava um cesto cheio
Cinco mil metros a andar
Quase sempre descalça
Até a casa chegar

Comprava boa hortaliça
E o carapau do mar
Lindos rabos de sardinha
Até chicharro de par

E como era Domingo
Para nossa consolação
Também levava consigo
Umas padinhas de pão

Do lugar de Assequins
P'ra ganhar algum dinheiro
Quando o calor apertava
Vinha o Abel sorveteiro

Seu transporte era um triciclo
Por pedais movimentado
Sentadinho no selim
Era tudo despachado

Apareciam cauteleiros
Alguns de grande perfil
Era o amigo Paradela
E o Carlos de Arganil

Vinha o Jorge de Coimbra
E o Arnaldo de lá vem
Como o amigo José Carlos
A vender jogo também

O Arnaldo de Mouquim
O Gomes de Oliveirinha
E até o senhor Albino
Que na lapela sempre as tinha

Havia casa de fazendas
Dos mais modernos padrões
Eram expostas em peças
Com destino a confecções

O Camossa era o mais forte
Em montras era o primeiro
Havia o Carlos Natal
Almeidas e senhor Ribeiro

O Almeida das fazendas
Homem com grande perfil
Também vendia passagens
Para África e Brasil

O empregado, senhor Alfredo
Tinha muita simpatia
Era homem de respeito
E muita gente atendia

Por se ter estabelecido
Esse homem sempre sem falhas
Ocupou o seu lugar
O senhor Luís das Malhas

O senhor António Almeida
Vendia também passagens
Para África e Brasil
E até outras paragens

A Madalena Balreira
Acarretava o correio
Com o seu carro de mão
Não havia outro meio

Ir à estação quatro vezes
Era a sua penitência
Trazia sacos fechados
Cheios de correspondência

Nas noites frias de Inverno
Que sacrifício ela fez
Esperar com paciência
Pelo comboio das dez

E assim durante anos
Foi o trabalho que fez
Para vencer o ordenado
De quinze escudos por mês

Farmácias cá na vila
Havia três afinal
Era a Vidal era a Ala
E a farmácia Amaral


© Braz dos Kiwis 1996 - 1998

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Fernando Caldeira

Fernando Caldeira foi grande Poeta

Escreveu comédias com muita mestria

Como "Mantilha de Renda" e "Varina"

Levadas à cena no "Dona Maria"



Ainda na Capital a "Madrugada"

Deixou o nome do Poeta bem gravada

Que interpretada ali por bons actores

Deixou o povo de Lisboa apaixonado



Foi Director do "Diário da Manhã"

Também Deputado às cortes três vezes

Ainda Governador Civil de Aveiro

E dirigiu o jornal "Tempo" alguns meses



Como redactor da Câmara dos Pares

Ele impôs o seu valor mais uma vez

Tendo sido nomeado em Março

De mil oitocentos e oitenta e três



Colaborou no "Diário da Manhã"

Sendo dele o seu Director literário

Trabalhando ao lado de Pinheiro Chagas

Grande colaborador deste Diário



No campo dramático foi notável

Deixando-nos "Medicas","Sara","Nantas"

Publicou "Sapatinhos de Cetim"

E ainda "Fló Fló" e obras tantas



Escreveu "Madrugada" e "Varina"

"Chilena", "Nadadores", " Missionários"

Publicou ainda "Mantilha de Renda"

E escreveu também Poemas vários



Colaborou no "Escola Popular"

Primeiro jornal em Águeda publicado

Escreveu nele, era ainda estudante

Poemas líricos que deram brado



Veio a morrer bem novo este Poeta

Que à Casa da Borralha pertenceu

Deixando-nos obras de grande valor

Que a historia de Águeda tanto enriqueceu

Águeda 1996


© Braz dos Kiwis 1996 - 1998

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Águeda e Marnel

Se Emínio não foste Águeda minha
Essa cidade romana tão falada
Que te importa toda a fama que ela tinha
Se as águias te traziam subjugada

Seriam os Celtas os Túrdulos ou os gregos
A fundá-la assim tão imponente
Como Talábrica aqui perto sepultada
A confundir o pensar de muita gente

É Coimbra desfazer o nosso sonho
Ali bem perto da vila de Condeixa
Foi aí que esteve Emínio Implantada
Porque uma lápide dúvidas não deixa

Assim cidade de Águeda e do Vouga
Comungando a sua história igual papel
Se Vouga nos pertence e tanto nos honra
A história de Águeda começa no Marnel

Mil anos antes de Cristo, o Marnel
Era uma terra bastante ambicionada
Os fenícios a procuram rio acima
Fazendo do rio Vouga sua estrada

Pelo seu grande valor dele falaram
Grandes homens de valor e grande fama
Dele falou Antonino Pio e Plínio
Ao evocar esta terra lusitana

Legiões de Roma por aqui passaram
Tantas vezes acampadas no Marnel
E quantos imperadores te visitaram
Fundando junto a ti castros a granel

Foi aqui que viveram grandes senhores
Com fama, com valor e valentia
Honraram-te Ero, Sousas e Ederquínas
E Eben Egas com a sua fidalguia

Nascido na desaparecida Aurunca
Era filho de Algira e Aires Manuel
São Martinho que foi cónego em Soure
E que foi chamado o mártir do Marnel

Almansor ministro de Hissen segundo
Com todo o seu poderio e grandeza
Ataca a igreja onde estava S. Martinho
Que foi confiada a ele por D. Teresa

Martinho foi capelão dos templários
Lutou com eles, nunca desvaneceu
Foi preso pelos tão cruéis Agarenos
E martirizado em Córdova, onde morreu

Fugindo às leis de Trava, Nendo Fernandes
A Guimarães, com bravura, vai lutar
Enfrenta Afonso sétimo de Leão
Fazendo Afonso Henriques triunfar

Ali começou a nascer Portugal
Com a ajuda desse homem tão fiel
Nendo Fernandes que foi grande senhor
Ilustre conde e Fidalgo do Marnel

Foi destroçando de Soult os sonhos seus
Que as milícias do Marnel fizeram história
Derrotam os franceses, matam Lameth
E ajudam Welesley a cobrir-se de glória

O Batalhão Académico de Coimbra
Por Francisco de Albuquerque comandado
Com tropas de Trant chegam a Serém
Juntam-se às do Vouga, lutam a seu lado

Napoleão sofre aqui mais um desaire
Deixa rasto de derrota onde chegou
As suas tropas recuam para a Galiza
E ser rei Soult foi sonho que passou

Vindos da Cruz de Mourouços, os liberais
Enfrentaram as tropas de D. Miguel
É episódio sangrento junto ao Vouga
Que veio fazer mais história do Marnel

A existência Celta de há milénios
Deixa por aqui passagem bem marcada
São os dólmenes a atestar uma verdade
que pelo Vouga ficou documentada

O mesmo aconteceu no Cértima e em Espinhel
Com seus dólmenes por ali espalhados
A marcar bem a sua presença ali
Desses povos já bastante civilizados

Castros havia por aqui espalhados
A desempenhar também grande papel
Como o Crasto, Crastovães e Cristelo
E ainda o afamado do Marnel

Imensos povos por aqui estiveram
Como fenícios, gauleses, germanos
Iberos, celtas, godos, árabes gregos
E ainda o grande povo dos romanos

Marnel, termo árabe que quer dizer
O mesmo que lamaçal ou alagadiço
E porque o mar ali o vinha beijar
Deu o nome a Lamas talvez por isso

A presença de areias, búzios e conchas
Que pela zona se notam tantas vezes
Vem comprovar que em tempos mais remotos
As ondas do mar chegavam a Lanheses

Os navegantes que por ali passaram
Na mira de negócios tantas vezes
Utilizavam grandes barcos talvez lanchas
E daí denominados os lancheses

Seria assim o seu primitivo nome
Lancheses, porto velho e acolhedor
Hoje uma pequena aldeia de Valongo
Com aspecto verde e encantador

Muitas vilas do Marnel tiveram fim
Mas o seu nome, esse não se esquece nunca
Como Arraval, Ferejanes e Melares
Belhe, Palatiolo, Paçô e Aurunca

Reminense Argimines teve aqui bens
Que legou ao mosteiro de Ferreirós
Entregou a religiosos de S. Bento
Que nesse tempo viviam entre nós

Bispo da Guarda, D. Martinho Pais
Um homem de valor e muito talento
Também teve aqui herdados alguns bens
Que os veio a legar a um convento

Mosteiro de Santa Maria, paróquia
Desse povo do Marnel que era cristão
Legou-o a S. Salvador de Viseu
D. Ederquina por sua devoção

Possuindo o Duque D. Gonçalo Mendes
Mesmo em Lamas um terço por quinhão
No ano de novecentos e oitenta e um
O entregou ao mosteiro do Lorvão

No ano de mil e setenta e sete
Era de Pelágio Gonçalves, o Marnel
Possível filho de Gonçalo Viegas
Militar que teve aqui grande papel

Em setecentos e onze os Agarenos
Atacaram com violentas fúrias
Vencem a batalha de Covadonga
E vêm formar o seu reino nas Astúrias

E galgando a Península Ibérica
Arrasando igrejas, praticando o mal
Atacam Recardães, Travassô e Lamas
E a igreja de Aguada, no Passal

Cercado de muralhas já seculares
Era tão lindo o Marnel e tão mimoso
Que tão encantado o autor luso épico
Lhe veio a chamar "Castro Formoso"

Até mesmo o D. Pedro das Linhagens
Que em Brunhido viveu no seu Paçô
Nos fala do Marnel nos seus escritos
Por ser terra que bastante admirou

O Marnel com seus outeiros verdejantes
Que um rio faz questão de vir beijar
Tem mesmo a norte terras de Mesão Frio
Que nome a Albergaria vieram dar

A igreja de Santa Maria de Lamas
Que pelos Agarenos foi arrasada
É reconstruída em mil cento e setenta
Pelo Bispo de Coimbra foi sagrada

Era em Roma de basílica apelidada
Pelas grandes riquezas que ela continha
Como as relíquias do sepulcro de Cristo
De S. Sebastião e Santa Marinha

Ainda as de Gordiano e Apímaco
Também do sepulcro de Santa Maria
Os do mártir Felicíssimo e Agapito
Tudo isto a igreja enriquecia

Emínio era uma extensa diocese
E muitas terras faziam parte dela
Como as de Coimbra, Seia e Vouga
E ainda a acastelada de Penela

As vias romanas de Plínio faladas
Que por esse grande povo foram feitas
Deixam marcas bem patentes no Reigoso
E nos marcos milenários das Benfeitas

A capelinha do Espírito Santo
Onde o povo vai rezar com devoção
Na presença Celta ou talvez romana
Já se praticava ali culto pagão

As relíquias de Gordiano e Apímaco
Que o povo de Lamas quis ceder
Deram início à igreja de Santa Cruz
Que D. Afonso Henriques mandou fazer


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